Existe algo reconfortante quando você assiste a um filme que foi feito por uma pessoa que ama filmes. 

Parece uma coisa simples, gostar de filmes para fazer filmes, mas nem sempre é assim que acontece. Nem sempre o amor pela arte é transposto para a tela. E nem sempre é necessário que isso aconteça. Mas com um diretor como Steven Spielberg, quanto maior o seu amor pelo projeto, mais encantador é o produto final. 

Amor, Sublime Amor (2021) – que estreou nos cinemas dia 09 de dezembro – é o último filme do diretor, o seu primeiro musical e a sua carta de amor ao cinema e tudo que ele representa. 

A trama já foi adaptada diversas vezes para o teatro, a primeira aconteceu em 1957, depois se transformou em filme em 1961 – ganhando 10 Oscars na premiação de 1962 incluindo melhor filme e melhor diretor para Robert Wise e Jerome Robbins. Livremente baseado na peça de Romeu e Julieta, acompanhamos a trágica história de amor entre Maria e Tony (aqui interpretados pela iniciante Rachel Zegler e o já conhecido Ansel Elgort) que estão em lados opostos das gangues Sharks e Jets, respectivamente. 

Se a história já é conhecida, as nuances que o roteirista Tony Kushner traz para a nova versão de Amor, Sublime Amor com certeza foram não só adaptadas como colocadas propositalmente para tornar o filme ainda mais atual.

O bairro povoado por imigrantes porto-riquenhos e imigrantes de terceira ou quarta geração de europeus que não foram a lugar algum está sendo demolido para a construção do que se tornaria o Lincoln Center em uma tentativa de revitalizar a localização e expulsar as classes mais pobres dali. Os Jets, liderados por um Mike Faist impecável no papel de Riff, querem se livrar dos Sharks a qualquer custo pelo simples prazer de se fazer maior que os latinos que “invadiram o seu país”. 

Qualquer semelhança com o que presenciamos todos os dias nos jornais não é mera coincidência, uma vez que os temas de racismo e xenofobia não estavam explícitos na peça original, mas que Spielberg e Kushner fizeram questão de representar aqui. A gentrificação também se faz presente com o tenente Schrank deixando claro desde o primeiro momento que aqueles rapazes estão apenas no caminho da evolução do bairro.

A cinematografia de Janusz Kaminski é belíssima retratando a destruição do bairro em todas as cenas, do primeiro ao último frame de Amor, Sublime Amor acompanhamos as personagens passando por prédios demolidos e piers esburacados – a sutileza na fotografia do filme ao achar beleza entre as ruínas dos sonhos dos habitantes daquelas ruas é impressionante. 

Outra mudança da peça – Spielberg fez questão de deixar claro que a sua inspiração vinha inteiramente do musical teatral e não do filme de 1961, que ele considera uma obra-prima (e não está errado) – foi transformar o personagem do dono do mercadinho em Valentina, uma viúva porto-riquenha interpretada pela Rita Moreno, que ganhou o Oscar de atriz coadjuvante pelo seu papel como Anita no filme original.

Na versão de 2021, Anita é lindamente interpretada pela atriz Ariana DeBose, que rouba todas as cenas em que aparece e faz um espetáculo à parte durante a música América junto com David Alvarez, no papel do Bernardo.

A verdade é que Steven Spielberg se preparou a vida inteira para dirigir um musical, que ele sempre soube que seria Amor, Sublime Amor, e quando finalmente o fez nos presenteou com um filme vibrante, fugindo da sua zona de conforto ao mesmo tempo que todos os temas pertinentes dos seus filmes ainda estão ali.

A música, o roteiro, a fotografia e um elenco afiadissímo (ainda vamos ouvir muito falar da Rachel Zegler que tem um carisma digno de comparação – se não maior – a Natalie Wood no filme original) se complementam em um dos melhores filmes do ano.

Duna Ano: 2021 Direção: Dennis Villeneuve Roteiro: Jon Spaihts, Eric Roth, Dennis Villeneuve Elenco principal: Timothée Chalamet, Zendaya, Oscar Isaac, Rebecca Ferguson, Jason Momoa Gênero: ​Ficção científica, Drama, Ação Nacionalidade: Estados Unidos
Duna Ano: 2021 Direção: Dennis Villeneuve Roteiro: Jon Spaihts, Eric Roth, Dennis Villeneuve Elenco principal: Timothée Chalamet, Zendaya, Oscar Isaac, Rebecca Ferguson, Jason Momoa Gênero: ​Ficção científica, Drama, Ação Nacionalidade: Estados Unidos

Amor, Sublime Amor

 

Ano: 2021
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner
Elenco principal: Rachel Zegler, Ansel Elgort, Ariana DeBose, David Alvarez, Mike Faist, Rita Moreno
Gênero: ​Drama, Musical
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: 4,5