Por Joyce Pais
Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain. O que esses ídolos possuem em comum, além de terem morrido aos 27 anos de idade? Para mim, eles fazem parte de um imaginário construído a partir dos relatos de parentes, da mídia, enfim, de seus contemporâneos. Eu não vivi suas épocas, não os vi em atividade (infelizmente), portanto, tenho uma noção parcial do que representaram musical, cultural e politicamente, noção esta baseada em leituras, conversas, vídeos, imagens, etc. Dessa forma, pode-se crer que a proximidade com o objeto de estudo, sem dúvidas, ativa um gatilho emocional em quem acompanhou de perto a trajetória de um ícone, nesse caso, estou falando daquela que foi considerada a voz de uma geração. Da minha. Amy Winehouse.
Depois de dirigir a cinebiografia do piloto Ayrton Senna, Asif Kapadia se debruça sobre a vida de Amy para tentar desvelar sua complexa personalidade e remontar seu caminho desde a infância – marcada pela separação dos pais e as constantes brigas em casa -, suas fiéis amizades da adolescência, os primeiros contratos com gravadoras, sua entrada no mundo das drogas até seu fim, já conhecido por todos.
Adotando uma estrutura que se afasta das tradicionais talking heads intercaladas com cenas de arquivo comumente utilizadas em documentários, Kapadia sobrevoa com sua câmera as cidades de Londres por onde Amy esteve, morou, os lugares que frequentava, e é através do áudio e da voz dos entrevistados, justapostos com fotografias, que vamos conhecendo pouco a pouco aquele cenário. Tal recurso, no entanto, não esvaziou o trabalho de sua força emocional, pelo contrário, são impressionantes os momentos como aquele em que Blake Fielder-Civil, indiferente após o fim do relacionamento, praticamente assume ter usado Amy de forma egoísta e para benefício próprio. Mesmo não vendo seu rosto, sua fala evidencia a crueldade frente á situação em que a cantora se encontrava graças, em parte, por conta de sua relação com ele.
Apaixonada por jazz e soul desde adolescente, Amy tinha uma “alma velha dentro de um corpo de uma garota de 18 anos”, como dito em determinado momento do filme. Apaixonada pela música, ela transpôs de forma visceral vivências pessoais para suas composições e se expôs ao mundo de forma direta e honesta. Foi essa mesma exposição, em excesso, que acabou contribuindo para acelerar seu processo de autodestruição, principalmente no que diz respeito ao uso de drogas, bebida e relações abusivas que experimentou. O filme foi corajoso ao jogar luz sobre a inconstante relação com seu pai (que chegou a colocá-la dopada em um avião para não perder um show e, assim, cumprir com uma extenuante agenda imposta por empresários) e sua negligência em reconhecer os problemas pelos quais a filha passava e suplicava por ajuda.
Popularizada também por programas sensacionalistas e de reputação duvidosa aqui no Brasil (como o Pânico na TV e o quadro “Momento Amy Winehouse”), o fato é que sua imagem foi projetada ao redor do mundo, com intensa cobertura da imprensa (e os clássicos problemas com paparazzi), muitas vezes focada nos escândalos em que se envolvia, mas foram sua música e talento os responsáveis por aproximar diferentes públicos e dar um refresh na indústria fonográfica.
Destaque para dois momentos genuínos do doc: quando Amy venceu cinco categorias do Grammy em 2008 e quando teve a oportunidade de gravar uma música ao lado de um dos seus maiores ídolos, Tony Bennett. Emocionante. Daqueles que dá nozinho na garganta.
Amy era uma bomba com risco iminente de explosão, mas o que fica, no final, é sua força, energia, e uma referência musical que, com certeza, minha geração terá orgulho de levar para as próximas.
Ano: 2015
Direção: Asif Kapadia
Com: Amy Winehouse, Peter Doherty, Tony Bennett.
Gênero: Documentário
Nacionalidade: EUA
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