Leia a entrevista com o diretor David Kyle, AQUI.

Por Ana Carolina Diederichsen

A partir de que momento da evolução individual pode-se dizer que um ser ganha vida?  A partir de quanto tempo de gestação pode-se considerar que um embrião é, de fato, um ser humano?

Essa questão faz parte de um grupo de questionamentos que já habitam o imaginário coletivo há alguns milhares de anos. E para respondê-la existem diversas abordagens. Dentre elas, as mais tradicionais são a religiosa, humanística e a científica.

Certamente influenciado pela visão moral, mas se baseando totalmente em dados científicos, o documentário Blood Money – Aborto Legalizado faz uma avaliação sobre o atual patamar da indústria do aborto nos EUA. A produção de 2010, chega ao Brasil dia 15 de dezembro com a proposta de fomentar a discussão sobre a legalização do aborto no país.

De acordo com dados apresentados ao longo do filme, para a ciência, a vida tem início, sem dúvidas, a partir do ato da concepção. No momento em que a primeira célula de um indivíduo, com código genético singular e distinto totalmente definido, é formada, já se tem o primeiro sinal de vida.

Pautando-se nesse argumento, o filme de estreia de David Kyle contesta a legalidade do aborto nos EUA, que foi determinada em 1973 pela Suprema Corte. Segundo ele, essa legalidade vai diretamente contra uma cláusula pétrea da constituição, que prevê que todo e qualquer individuo tem o direito à vida garantido pelo Estado. Ora, se todos tem o direito inviolável à vida e se a vida se dá a partir da concepção de um individuo, então independente do estágio gestacional em questão, qualquer atentado ao embrião torna-se um atentado à vida e como tal, deveria classificar-se como assassinato.

A partir dessa ideia, que nasceu em 2004, o documentário é construído de maneira bastante tradicional, estruturado a partir de uma narradora central, a Dr. Alveda C. King, cujo parentesco com Martin Luther king justifica sua presença no filme, e de depoimentos de especialistas. Não inova em linguagem, enquadramentos, iluminação e apresenta um pequeno problema de áudio, que não traz nenhum prejuízo à compreensão do filme. Foi dividido em 3 versões, uma de 75 min, que será lançada nos cinemas brasileiros, uma de 50 min no formato para televisão, e uma de 20 min, no formato compacto.

De maneira muito crua, aborda o funcionamento das clínicas de aborto, a partir de depoimentos de pessoas que trabalharam no ramo por anos e faturaram milhões com esse negócio. As graves denúncias envolvem desde a falta de esterilização, até a realização de abortos em mulheres não-gravidas, apenas para lucrar com o procedimento. Mostra ainda que muitos casos de morte e mutilação de mulheres não foram relacionados ao aborto devido à vergonha e ao sigilo que envolvem o ato, mascarando todos os dados oficiais.

O filme tem um ponto de vista bastante determinado condenando a prática do aborto. Todos os entrevistados são contra e todos os argumentos corroboram essa posição. Apesar de tendencioso, aborda questões que certamente não podem ser deixadas de lado numa discussão que envolve o tema. Aponta uma realidade muitas vezes esquecida, que é a banalização do ato num país em que sua pratica é legalizada há 40 anos. Muitas vezes, erroneamente, o aborto é tratado como método contraceptivo, e não como uma opção de interrupção da gravidez, além de ser tido como a única solução à gravidez indesejada. As clínicas de Planejamento Familiar, que deveriam prestar orientações sobre a prevenção da gravidez são, curiosamente, as principais realizadoras de abortos dos EUA, faturando milhões de dólares ao ano.

Blood Money é bem feito, mas tem apenas um único argumento sólido, os demais apontamentos se sustentam exclusivamente em opiniões de médicos, legisladores, ex-proprietários de clínicas e mulheres que se arrependeram de realizar o procedimento. Por se tratar de um tema polêmico ao apresentar aspectos interessantes, o documentário se torna obrigatório numa discussão sobre a legalização do aborto, mas por ser altamente parcial, não pode ser a única fonte de informações.

Cinemascope - Blood Money posterBlood Money – Aborto Legalizado (Blood Money)

Ano: 2010

Direção: David K. Kyle

Roteiro: David K. Kyle

Elenco principal: Sandra Cano, Clenard Childress Jr., Carol Everett, Alveda King.

Gênero: Documentário

Nacionalidade: EUA.

 

Veja o trailer:

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