Se eu fosse classificar Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe em poucas palavras eu diria: boa tentativa. O filme é uma empreitada do ator Edward Norton que roteirizou, produziu, dirigiu e atuou no longa. Esse é a segunda vez que Norton se arrisca na direção. Ele também comandou a comédia romântica Tenha Fé (2000). Em Brooklyn, o ator interpreta o Lionel Essrog, um detetive excêntrico com síndrome de Tourette, que o faz ter tiques nervosos, e uma língua da qual escapam comentários não muito sociáveis. Depois do assassinato de seu amigo de trabalho e figura paterna, Frank Minna (Bruce Willis), Essrog parte para tentar desvendar os responsáveis pela morte e o por que do ocorrido.
A proposta do filme é, a partir do gênero noir, subverter o mesmo com um detetive nada charmoso, com pouca experiência e com uma condição que, muitas vezes, o atrapalha quando ele precisa ser discreto. Além disso, tentar trazer traços mais artísticos e emocionais com momentos de pirações visuais e música tema (Daily Battles) composta pelo vocalista do Radiohead, Thom Yorke, e o baixista do Red Hot Chilli Peppers, Flea. Nesses momentos, a gente olha e pensa que tem alguma coisa ali, mas não consegue ir muito além disso. O restante da trama se desenvolve mais em função do universo noir do que propriamente a condição do protagonista ou sua relação com a figura paterna. Elementos que conseguiriam trazer um olhar diferenciado e revigorante.
Ao ouvir a narração em off, que é uma característica do gênero, é impossível não lembrar de um dos papeis mais marcantes de Norton que foi em Clube da Luta (1999). Essa lembrança cria uma expectativa de algum plot twist no final. Inclusive, fiquei tentando decifrar se o que estava vendo poderia ser alguma alucinação da cabeça do personagem visto que é o próprio quem conta a história.
Talvez se concentrar apenas na vibe noir, resultaria em um filme mais coeso. A pauta do filme discute o que significa a palavra “poder”. Os caminhos da investigação do protagonista encaminham para uma trama envolvendo muito dinheiro e grandes instituições. A situação do personagem e a trama que é maior que ele (como o próprio diz em alguns momentos do filme) não têm uma ligação muito eficiente, que seja para além do óbvio, algo sugerido logo no início do filme com as construções visuais que já citei anteriormente.
Norton também não estava muito bem em seu personagem. Os outros atores de renome que estão no filme como Willem Dafoe, Bruce Willis e Alec Baldwin parecem estar mais à vontade no papel que ocupam. O que me faz pensar que talvez a história funcionasse melhor estando nas mão de um profissional mais experiente. Vendo a narrativa como um todo, ela tem elementos que trazem a possibilidade de um filme de respeito.
Em uma certa altura de Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe, Norton precisa ir num pequeno clube de jazz fazer uma investigação. Nesse lugar, surge um trompetista negro, rouco e desbocado, mas ao mesmo tempo, muito talentoso. Esses elementos são parte da figura mística do gênero Miles Davis. Procurei informação se se tratava dele de fato, mas não encontrei uma informação explícita a respeito. O personagem é chamado apenas de “o trompetista”. Imagino que ou Norton quis de fato fazer essa construção mística em torno da figura de Davis (se de fato era ele mesmo) ou se devido a questões de direito de imagem, ele optou por apenas deixar isso de forma sugestiva. (Se não conhece o músico, ouça Kind of Blue é um disco que sempre figura nas listas dos melhores álbuns de todos os tempos)
Bom, enfim, por essas razões todas, Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe é uma boa tentativa. Tem diversos pontos positivos que demonstram que Norton entende bastante desse universo não só cinematográfico, mas também musical, mas falta a ele um pouco mais de experiência para fazer isso tudo funcionar efetivamente. Acredito que numa próxima produção ele faça um filme que seja mais interessante e relevante.