Passado e presente sempre são confrontados. De forma sempre a questionar se o que foi feito anteriormente poderia resultar em um caminho diferente, o que faz o presente sempre temer o futuro também, cheio de incertezas.

A premissa de Cavalos Roubados, filme selecionado pela Noruega para representá-la no Oscar do ano que vem, equipara esses tempos constantemente. Situando o presente em 1999, quando na televisão já se ouvia sobre o bug do milênio, o já sexagenário Trond (Skarsgård) vive isolado numa vila na Noruega. Ao descobrir que seu vizinho (Floberg) se trata de um colega que conheceu na época que passou o verão com seu pai (Santelmann) em 1948, Trond passa a relembrar toda a adolescência que viveu lá.

Dirigido por Hans Petter Moland, o cineasta pesa uma mão bastante suntuosa nos enquadramentos, ressaltando a natureza clara e verde daquele verão, que contrasta com a neve e a escuridão que Trond vive em 1999. Uma contraposição bastante óbvia, mas funcional, já que a montagem realiza raccords interessantes, como o momento em que Trond olha as plantas mortas e de repente ele está vendo-as floridas em 1948, logo em seguida cortando-as para voltarmos novamente para Trond velho acendendo uma lareira.

Composto por uma belíssima fotografia que rendeu um prêmio especial para Rasmus Videbæk no Festival de Berlim por sua contribuição artística, a atmosfera sempre solene torna o filme quase apático, já que a mise-en­-scène evoca uma frieza entre os personagens. O que não condiz com o abalo psicológico que Trond parece passar na virada do milênio.

Sempre adotando um tom vagaroso e introspectivo, seja na forma como os atores pronunciam seus diálogos ou mesmo reagem a certos acontecimentos da trama, Moland cria um universo bastante austero, mas muito distante, impedindo que se prenda aos dilemas e conflitos dos personagens. Além do fato de prolongar essa estética por duas horas que se arrastam para passar.

Mesmo assim, o veterano Stellan Skarsgård volta a atuar em filmes estrangeiros e consegue transmitir na forma frágil que fala e caminha como as cicatrizes do passado e dos amores ainda estão presentes.

O filme causa impactos muito mais pelo uso inteligente da montagem que acerta bem em pular do presente para o passado e pelo desenho de som que marca acontecimentos fortes, como um tiro de espingarda ou uma árvore que cai.

Trazendo quase constantemente um pessimismo diante do futuro, já que os personagens no passado parecem domar a natureza ao cortar árvores, nadar em rios ou mesmo caçar e posteriormente estão a mercê de uma neve paralisante, Cavalos Roubados é esteticamente belo e trata seus temas de forma curiosa. Porém, sua atmosfera arrastada e inexpressiva afasta demais o filme de um resultado mais ambicioso e marcante.

*Essa crítica faz parte da cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Cavalos Roubados

Ano: 2019
Direção: Hans Petter Moland
Roteiro: Hans Petter Moland
Elenco principal: Stellan Skarsgård, Tobias Santelmann, Jon Ranes, Bjørn Floberg, Danica Curcic
Gênero: ​Drama
Nacionalidade: Noruega, Suécia, Dinamarca

Avaliação Geral: 2,5