A primeira versão de Cemitério Maldito (1989) tornou-se um clássico de terror no Brasil graças às exibições frequentes na TV aberta. Dirigido por Mary Lambert, o longa é uma adaptação do romance homônimo de Stephen King. Na trama, a família Creed se muda de Boston para uma nova casa, no Maine. Ali descobre que a propriedade abriga um cemitério indígena ancestral e aprende de maneira trágica que existem coisas piores do que a morte.

Parar marcar o aniversário de 30 anos do filme, chega agora aos cinemas uma nova adaptação do terror, dessa vez sob a batuta de Kevin Kölsch e Dennis Windmyer. A história permanece a mesma, os Creed continuam vizinhos de Jud (John Lithgow), o viúvo esquisitão, e Church ainda é o gato endiabrado.

Por se tratar de uma adaptação, existem pontos da narrativa que obviamente não podem ser mudados. Contudo, as atualizações esperadas para essa releitura são apáticas e não chegam a surpreender os espectadores. Assim, é impossível não lembrar de It: A Coisa (2017), outro filme baseado numa obra de King, que de forma inteligente soube atualizar as desventuras do Clube dos Perdedores para os dias atuais. Porém, não isso que vemos em Cemitério Maldito.

Baseado numa história de terror, o filme respeita todas as fases do gênero: irrupção, momento em que eventos estranhos têm início, investigação, quando o protagonista começa a pesquisar sobre tais ocorrências, confirmação, onde encontra provas irrefutáveis dos episódios paranormais que está vivendo, e confronto, quando o é obrigado a encarar a origem do mal cara a cara.

Para amarrar todos esses momentos, a equipe técnica utilizou alguns elementos narrativos corretamente. Na fotografia, o vermelho é bem presente em figurinos, objetos de cena ou mesmo na casa da família Creed, indicando uma violência latente nestes ambientes. Também abundam na tela as cores verdes que, geralmente associadas à vida, aqui representam a podridão embutida na terra. A partir do segundo ato, a iluminação e a maquiagem trabalham bem em conjunto para conceder aos personagens ares cadavéricos. Essa mudança é embalada pela trilha sonora, composta de tons graves e fúnebres.

Entretanto, são justamente os efeitos de som que jogam uma pá de terra na experiência do público. Devido ao seu didatismo extremo, é possível antecipar cada um dos sustos, retirando de tais momentos o seu verdadeiro impacto. A câmera é pouco inspirada, trabalhando em planos convencionais e forçando rimas visuais que não emplacam. Os melhores momentos talvez sejam as tomadas aéreas que retratam a casa inserida no meio da floresta. Porém, é impossível não comparar tais cenas com o ótimo Hereditário (2018), que realiza esses passeios com maestria, a fim de aumentar a tensão.

A necessidade de explicações pedagógicas também se faz presente no roteiro, característica essa que enterra o suspense. Todas as razões para os eventos sobrenaturais são dadas gratuitamente ao público, evitando assim qualquer dúvida e também qualquer diversão. O texto falha ainda em estabelecer relevância na lenda do Wendigo*, que é apresentada de maneira desleixada e em nada afeta o desenrolar da história.

Ao realizarmos a autópsia de Cemitério Maldito, encontramos um longa que pouco inova quando pareado ao antecessor de 1989. Os dois primeiros atos dos filmes são basicamente iguais, respeitando as atualizações de computação e fotografia. Já o ato final da nova versão, que guarda as maiores diferenças com o longa de Mary Lambert e também com a obra de King, perde força pela falta de empatia do público com os protagonistas e por uma campanha de marketing malsucedida**.

Usado pelo mestre do terror literário como uma parábola que mostra a inabilidade do homem em lidar com a morte, o filme fica muito aquém de seu potencial. As motivações dos personagens são questionáveis, o didatismo é abusivo e o elenco, com exceção da pequena Ellie (Jeté Laurence), não cativa. Com isso, fica a impressão de que Cemitério Maldito sofre mesmo de uma maldição indígena, que o impede de ser bem adaptado para os cinemas.

 

*O Wendigo é uma criatura, nativo de lendas indígenas norte-americanas. Trata-se de um espírito canibal que pode se transformar em humano ou possuir um.

**O último trailer de Cemitério Maldito revelou todos os grandes plot twists do filme e, com isso, sofreu severas críticas do público que ansiava pela nova adaptação do longa.

Cemitério Maldito

 

Ano: 2019
Direção: Kevin Kölsch e Dennis Windmyer
Roteiro: Matt Greenberg e Jeff Buhler
Elenco principal: Jason Clarke, Amy Seimetz, Jeté Laurence, Hugo Lavoie, Lucas Lavoie e John Lithgow
Gênero: ​Horror, Mistério, Thriller
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: 2