Por Katia Kreutz
A premissa de Colossal é ao mesmo tempo simples e bizarra: uma mulher descobre que um monstro está atacando a cidade de Seul e, pior, que ele repete exatamente as coisas que ela faz em suas noites de bebedeira. Sim, é difícil explicar sem contar demais. Basta dizer que a intrigante história, que a princípio parece apenas uma comédia com elementos de ficção científica, acaba se tornando uma analogia a algo bem mais sombrio do que se espera.
Gloria (Anne Hathaway) é uma jovem desempregada que passa as noites bebendo com os amigos em Nova York. Cansado de ver a namorada chegando em casa todas as manhãs de ressaca, Tim (Dan Stevens) termina o relacionamento e a manda embora de seu apartamento. Sem casa e sem trabalho, ela é obrigada a voltar para sua cidade natal, em Nova Jersey.
Ao se instalar na antiga casa dos pais, agora vazia, Gloria acaba encontrando um colega de escola, Oscar (Jason Sudeikis), que nunca realizou seu sonho de ir para a cidade grande e se tornou dono de um bar. Ela começa a trabalhar como garçonete nesse bar, quando as coisas tomam um rumo pra lá de estranho: espalha-se na internet a notícia de que um monstro do tipo Godzilla está atacando Seul, a capital da Coreia do Sul.
Tudo fica ainda mais estranho quando Gloria percebe que esse monstro está conectado a ela de alguma forma, já que todas as suas ações são repetidas por ele do outro lado do mundo. As surpresas da história não param por aí, mas revelar o que vem em seguida seria estragar a jornada de descoberta da própria Gloria com relação a si mesma e a seu amigo de infância.
O que faz um monstro? Essa é a pergunta que o diretor Nacho Vigalondo (conhecido pelo sucesso cult Crimes Temporais) tenta explorar. Embora a aparição da gigantesca criatura e suas implicações na história sejam tão reais quanto os personagens humanos do filme, a maior ameaça está dentro dos próprios personagens, alguns deles capazes de atos terríveis.
Mas a complexidade da trama não para por aí. Ela serve também como uma excelente metáfora para o alcoolismo e o perigo de pessoas tóxicas e relacionamentos abusivos. O tom cômico e despretensioso do filme esconde personagens movidos por baixa autoestima, inveja e ressentimentos, que acabam encontrando nas circunstâncias fantásticas da aparição do monstro uma válvula de escape.
Até que ponto a fachada de “pessoas bacanas” que apresentamos se sustenta, quando vislumbramos a possibilidade de manipular os outros e ter algum poder sobre eles? A surpresa, aqui, não está nas origens do monstro ou o que vai acontecer com ele. A revelação mais profunda está no fato de que a raiva e o sentimento de inferioridade podem explodir sem aviso, causando muito mais destruição do que um protótipo de Godzilla seria capaz.
Colossal poderia ser apenas um filme de monstro engraçadinho, mas a sutileza com que assuntos pesados são inseridos na história faz com que exceda expectativas. A revelação de como se deu o surgimento do monstro, nesse contexto, acaba sendo uma das partes menos interessantes do longa-metragem. O verdadeiro horror se revela quando o sentimento de ter falhado se transforma em sede de vingança contra um mundo que, na sua cabeça, foi injusto com você. Pode acontecer com qualquer um, inclusive com “caras legais”. No final das contas, o pior monstro é sempre o ser humano.
Ano: 2016
Direção: Nacho Vigalondo
Roteiro: Nacho Vigalondo
Elenco principal: Anne Hathaway, Jason Sudeikis, Austin Stowell, Tim Blake Nelson, Dan Stevens
Gênero: Ficção Científica , Comédia, Drama
Nacionalidade: Estados Unidos, Canadá, Espanha, Coreia do Sul
Veja o trailer: