Por Thaís Lourenço

Perdidos em Paris é a mais nova parceria de Fiona Gordon e Dominique Abel, com a participação de Pierre Richard e a última atuação de Emmanuelle Riva (Amor). O filme faz parte da seleção do Festival Varilux de Cinema Francês e entra em cartaz oficialmente no Brasil dia 6 de julho de 2017.

O longa conta a história de Fiona, que mora no Canadá e recebe uma carta da sua tia Martha, que vive em Paris e que, preocupada em ser mandada para um asilo, pede sua ajuda. Fiona viaja à Paris com a intenção de ajudar Martha e conhece o carismático Dom, um morador de rua. Assim, dá-se início a uma série de peripécias, de encontros e desencontros, que tornam a trama leve, engraçada e delicada. Dom persegue Fiona, que persegue Martha, que persegue a liberdade.

Fiona Gordon e Dominique Abel têm um histórico consolidado de parcerias que incluem: O Iceberg (2005), Rumba (2007) e A Fada (2011). Suas obras costumam versar sobre uma mesma temática: o corpo humano, ou melhor, a falta de jeito do ser humano. O corpo detém o papel principal, a comunicação é feita sem necessidade da verbalização, Rumba, por exemplo, é um filme quase sem falas, pois elas não precisam existir, são dispensáveis.

Para dar primazia ao corpo, eles desenvolvem um visual burlesco ao estilo de atores e diretores do cinema clássico como Charles Chaplin, O Gordo e o Magro e Jacques Tati, de quem dizem emprestar a ideia de transferir o cênico/burlesco para o cinema, sem contar a sutil lembrança da estética de Federico Fellini.

Assim como nas obras de comédia de Tati e Chaplin, Gordon e Abel usam características clássicas para promover o riso, tais como: sons dos objetos, observação do cotidiano e movimentos exagerados. Tal como Tati, Fiona e Dominique vêm do mundo circense, e usam muito das características exageradas do corpo de um mímico, esse humor corporal de exagero depende principalmente da observação do mundo, do cotidiano.

O nome original do longa Paris pieds nus (Paris a pés descalços, em tradução livre) remete aos pés dos personagens e à preocupação por focá-los e dar protagonismo à eles. Existem diversas cenas em que o pé ocupa a tela e atenção dos espectadores, seja em momentos de dança, seja em momentos de procura ou de perda – Fiona por exemplo perde toda a sua mala e usa o mesmo par de tênis ao longo de todo o filme, Martha anda de meias por Paris e assim por diante. Perdidos em Paris transforma-se em um tour descalço.

Emmanuelle Riva, conhecida como atriz dramática, surpreende nesse papel incrível que superou as expectativas inclusive dos diretores. Dominique conta que Emmanuelle, durante as gravações, dizia “tenho 14 anos mas meu corpo tem 88”, e a Martha que vemos na tela é exatamente essa Emmanuelle de 14 anos, brincando de atuar ao longo da trama.

Fiona Gordon e Dominique Abel escrevem histórias tocantes cheias de ternura ao mesmo tempo que observam a vida com óculos de palhaço. O humor é ingênuo e mais do que dançarinos, Fiona e Dominique são atores físicos e prezam pelo modo desajeitado de dançar e se movimentar, há um desejo em mostrar que nada daquilo é profissional. O filme é comandado pelo corpo do ator, tudo emana do corpo, que é clownesco, e tudo dança: a água, os pés, o corpo, até a barraca de Dom.

perdidos em paris posterPerdidos em Paris (Paris Pieds Nus)

Ano: 2016

Direção: Dominique Abel e Fiona Gordon

Roteiro: Dominique Abel, Fiona Gordon

Elenco principal: Céline Laurentie, Dominique Abel, Emmanuelle Riva, Emmy Boissard Paumelle, Fiona Gordon, Pierre Richard

Gênero: Comédia

Nacionalidade: França, Bélgica

Veja o trailer: