Por Katia Kreutz

Poucos filmes têm o poder de realmente transportar o espectador a lugares nunca antes visitados. Columbus é uma dessas obras tão poderosas visualmente que os próprios personagens quase ficam em segundo plano.

A história acompanha um período difícil na vida de Jin (John Cho), um tradutor de livros que mora na Coréia do Sul, cujo pai – um professor de arquitetura – sofre um colapso e se encontra à beira da morte em um hospital na cidade de Columbus, Estados Unidos.

Enquanto espera pela recuperação de seu pai, Jin acaba conhecendo Casey (Haley Lu Richardson), uma jovem apaixonada por arquitetura. Ao contrário dele, que vê o trabalho do pai com certo rancor, ela observa as paisagens ao seu redor com um olhar fascinado e curioso. Embora esteja “presa” à cidade, porque se sente na obrigação de cuidar da mãe – uma ex-viciada em drogas – a garota vê nas obras arquitetônicas uma válvula de escape.

A arquitetura, na verdade, é a grande protagonista da história. Durante o período em que Jin permanece em Columbus, verdadeira meca da arquitetura moderna norte-americana, Casey acaba apresentando a ele toda a complexidade dos impressionantes edifícios espalhados pela cidade. Aos poucos, as palavras dela vão envolvendo o rapaz – e o espectador – em uma jornada de descobrimento e encantamento.

Esse é o primeiro longa do diretor sul-coreano Kogonada, um cineasta de enorme sensibilidade que consegue usar de maneira harmônica os momentos de silêncio, as imagens espetaculares e a delicada interação entre Jin e Casey. O filme é, ao mesmo tempo, um experimento contemplativo, um romance platônico e uma homenagem à arquitetura por meio da sétima arte.

Para os dois protagonistas, que buscam escapar da solidão e do peso do futuro, as formas arquitetônicas acabam se tornando uma espécie de refúgio. Impedida de ir atrás de seus sonhos, Casey encontra consolo admirando o que poucas pessoas da cidade sequer notam. Onde os outros veem apenas concreto e vidro, ela encontra simetria, transparência, sentido. Para Jin, a descoberta da arquitetura como algo tocante e restaurador faz com que ele entenda um pouco melhor o pai, uma figura sempre distante em sua vida.

A relação entre Casey e Jin é construída sem pressa, cheia de sutilezas. Cada palavra soa verdadeira, cada plano tem a beleza de uma obra de arte. Da mesma forma que Casey desarma Jin e o desafia a ver poesia em um punhado de tijolos, Kogonada leva o espectador a encarar suas próprias emoções, expectativas, sonhos e medos. Em Columbus, assim como na arquitetura que o filme retrata, a técnica nunca se sobrepõe ao sentimento. Afinal, não dizem que a arte se aprecia com o coração, não apenas com os olhos?

columbus

Columbus

Ano: 2017
Direção: Kogonada
Roteiro: Kogonada
Elenco principal: John Cho, Haley Lu Richardson, Parker Posey, Rory Culkin, Michelle Forbes
Gênero: ​Drama, Comédia, Romance
Nacionalidade: Estados Unidos

Veja o trailer: