Por Ana Carolina Diederichsen
Escrito por Maria Mariana, o livro “Confissões de Adolescente” já teve diversas adaptações: para o teatro, televisão e agora, após uma jornada de quase 20 anos, chega às telonas. Na versão para o cinema, a ideia central da série foi mantida, retratando uma família de quatro irmãs, com idades entre 13 e 19 anos, criadas pelo pai, mas sofreu algumas atualizações contando com a forte presença da internet mediando as novas relações. O clipe de abertura, com narração em voz off (substituindo os depoimentos para a câmera, marcantes na versão televisiva), tem cortes e movimentos rápidos, apresentando a dinâmica que vai dominar a vida das quatro protagonistas.
Depois das férias de verão, os estudantes se encontram na escola para o primeiro dia de aula, que se converte em festa marcada por reencontros, novidades e fofocas para colocar em dia. A alegria das jovens amigas é contagiante, mas por trás dessa visão mais superficial, começam as despontar os problemas cotidianos, que nas cabeças confusas dos adolescentes, tomam proporções catastróficas.
A família entra em crise e tem suas estruturas abaladas quando o pai (Cassio Gabus Mendes) informa que terão de se mudar para um bairro mais barato e, consequentemente, afastado. As meninas tentam desesperadamente convencê-lo a não se mudarem, pois a escola, amigas e paqueras estão no bairro. Para ajudar Paulo chegam a propor um plano de economia, que envolve desde a redução do uso da chapinha até a prestação de pequenos serviços remunerados. No fundo, esse esforço das jovens reflete o medo de mudanças e das consequências que isso pode trazer.
A irmã mais velha, Tina (Sophia Abrahão), está na faculdade e não mora mais com as irmãs e o pai, mas ainda é dependente financeiramente dele. Depende tanto, que faz seu “supermercado” na despensa do apartamento do progenitor. Seus desafios diários envolvem conciliar estudo, namoro e emprego, além de manter a nova casa diante da crise financeira da família. Ela está naquela fase em que passa a questionar suas escolhas, e suas certezas viram incertezas.
Bianca (vivida pela promissora Bella Camero) está no seu primeiro relacionamento sério e tenta evitar as expectativas e cobranças inerentes a isso. Usa de seu jogo de cintura para acolher Juliana (Olivia Torres), uma nova aluna que sofre bullying por parte da popular e linda Talita (Tammy di Calafiori). Ela ainda passa pelo dilema de escolher o curso e a faculdade que vai prestar. Apesar da pressão do pai, ela não se sente pronta para decidir aos 17 anos o que fará pelo resto de sua vida.
A personagem de Malu Rodrigues, Alice, passa pelas peripécias da perda da virgindade e, apesar de contar com o apoio das irmãs mais velhas, sofre com a constante vigia do pai. Já a caçula, Karina (Clara Tiezzi), se ocupa em prestar pequenos serviços na vizinhança, consertando e atualizando computadores, enquanto lida com a primeira menstruação, primeiro amor e primeiro beijo.
Repleto de temas comuns à idade, Confissões de Adolescente tem um público garantido, que se divide entre os adultos, que já vivenciaram essas experiências e se identificam, e os próprios adolescentes, que estão tentando contornar todas as peripécias apontadas no filme. Por ter vários núcleos e abordar temas diversos sem aprofundá-los, como sexo, homossexualidade, popularidade, namoro, encontros e desencontros, o filme cai no superficialidade. A sensação de que faltou explorar um pouco mais alguns temas é inevitável, mas não prejudica o filme. Apenas enfatiza a diferença mais significativa entre o filme e a série: aprofundamento. Diferença essa, que sempre vai existir devido à limitação de tempo de um longa.
No filme, essa mistura de temas até soa mais real, pois na vida, as coisas acontecem assim mesmo, se atropelando e se sobrepondo. Mas umas das vantagens que a arte nos dá, seja através do cinema, da literatura e até da televisão, é se aprofundar em aspectos da vida que muitas vezes passam tão rápido que não ganham a devida atenção. Tarkovsky, grande cineasta russo, nos disse que com o cinema, podemos esculpir o tempo. E nesse caso, foram tantas as atrações, que o tempo passou voando.
É possível perceber a presença massiva das redes sociais, que em 2013 assumem o papel do diário. A tecnologia se torna determinante em uma cena do filme, em que duas personagens só se encontram e se tornam amigas pelo intermédio da internet. Essa situação quebra um pouco o paradigma de que a tecnologia afasta pessoas. Na nova geração, que já tem isso tão fortemente incorporado, a tecnologia é um ponto de ligação, uma maneira de conectar duas, ou mais, pessoas.
O filme é divertido e não faz restrições, nem menospreza o público adolescente. Para os que já passaram por essa época, ganha ares de nostalgia ao mostrar como se estabelecem as primeiras certezas e convicções, e também a agilidade em que é possível mudar cada uma delas e criar novas. Para os que ainda têm espinhas no rosto, aponta, através de ritos de passagem, o turbilhão de mudanças incontroláveis, para as quais não há escapatória, mas que até então, a ingenuidade os fazia acreditar que estavam sob controle.
As confissões (e confusões) de adolescente ainda trazem um presentinho aos que acompanharam a série, que é a presença do elenco original, em pequenos papéis. As adolescentes de então (Maria Mariana, Deborah Secco, Daniele Valente e Georgiana Góes), agora são mulheres fortes, que sobreviveram ao furacão chamado adolescência.
Ano: 2013
Diretor: Daniel Filho e Cris D’Amato
Roteiro: Matheus Souza
Elenco Principal: Sophia Abrahão, Bella Camero, Malu Rodrigues, Clara Tiezzi, Cassio Gabus Mendes.
Gênero: Comédia
Nacionalidade: Brasil
Confira o trailer:
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