Simplesmente Uma Mulher

Por Sttela Vasco

Olhando de longe, Simplesmente uma Mulher (Just Like a Woman) pode parecer um daqueles filmes onde amizades surgem de situações difíceis e são coradas com uma fuga através de uma viagem reveladora e engrandecedora. No entanto, a mais nova obra de Rachid Bouchareb (Dias de Glória) deixa claro que a amizade estabelecida ao longo do filme entre as personagens de Sienna Miller (Amor Extremo) e Golshifteh Farahani (Rede de Mentiras) serve como base para temas como diferenças culturais, casamento e preconceito. Muito além de contar a história de duas mulheres, Simplesmente uma Mulher reafirma uma das características essenciais de seu diretor e coloca lado a lado duas culturas aparentemente opostas, mostrando que oriente e ocidente têm mais em comum do que se imagina.

Após uma sequência de problemas, Marilyn (Sienna Miller), uma apaixonada por dança do ventre, decide abandonar tudo e partir em uma viagem até Santa Fé para uma competição de dança. Ao mesmo tempo, Mona (Golshifteh Farahani) sofre com as constantes interferências de sua sogra em seu casamento e, após um grave incidente, decide fugir de casa. Em meio ao desespero, ambas se encontram e decidem partir juntas para o concurso. Ao longo da viagem, Marilyn e Mona desenvolvem uma forte amizade e descobrem que, apesar de aparentemente diferentes, ambas enfrentam problemas parecidos e precisam reassumir o controle de suas vidas. Na estrada, as duas acabam encontrando as mais diversas situações, além de encontrarem a si próprias.

As relações entre os “mundos” oriental e ocidental sempre se deram com cautela. Um sempre observa o outro com certo estranhamento e, muitas vezes, com preconceito. E esse é justamente o fio condutor adotado por Bouchareb em Simplesmente uma Mulher. Ambientado em solo norte-americano, o longa põe essa questão em destaque em várias cenas – umas das mais fortes do filme se deve, inclusive, pela complexa relação entre oriente e ocidente. No entanto, ao acompanharmos a história de Marilyn e Mona é possível perceber que, apesar das diferenças, ambas vivem vidas parecidas. Infelizes, as duas mulheres se encontram em casamentos com problemas. Casamento, aliás, é um dos temas mais fortes da história. De uma maneira sutil e bastante inteligente, é possível perceber que essa foi uma das maiores aproximações realizadas pelo filme. O espectador se surpreende ao ver que, apesar de uma ter casado apaixonada e a outra ter conhecido o marido apenas na cerimônia, as duas estão insatisfeitas com suas relações. Elas provam que, por mais que os chamados “costumes” sejam diferentes, todos enfrentam problemas, cometem erros e desejam fugir vez ou outra.

Apesar de ser a grande estrela da produção, Sienna Miller tem sua personagem ofuscada pela forte Mona de Farahani. A moça, aparentemente frágil no início, cresce ao longo da história e passa a ser o foco da trama. Ganhando força ao longo da viagem, Mona passa a enfrentar seus problemas com tamanha decisão que chega a tornar a Marilyn de Sienna sua coadjuvante. Com direito a momentos de heroína e uma grande libertação, Mona constantemente atrai o espectador de volta à viagem, fazendo com que esse se pegue várias vezes imaginando o que acontecerá a ela e como terminará sua história.

Ainda que demore um pouco para pegar ritmo, Simplesmente uma Mulher consegue prender a atenção. Com uma bela fotografia e situações que propõem à reflexão, o filme nos leva a pensar se oriente e ocidente estão tão longe assim um do outro. As situações vividas pelos maridos na ausência das duas – principalmente os diálogos entre Mohad e a polícia – merecem uma atenção especial. Quem espera por um final conclusivo ou arrebatador, talvez se decepcione com o longa, mas vale lembrar que a grande mensagem de Bouchareb se dá ao longo de toda a obra e não apenas em sua conclusão.

Simplesmente Uma Mulher (Just Like a Woman)