Por Rafael Ferreira

Dark Blood é um filme que estaria fadado a jamais ver a luz do dia, não fosse a iniciativa do diretor George Sluizer de finalizá-lo da maneira que podia e lançá-lo quase vinte anos depois de filmá-lo. Como Sluizer explica logo no início da projeção, as filmagens de Dark Blood não foram completas devido à morte do ator River Phoenix (o jovem Indiana Jones em A Última Cruzada) em 31 de outubro de 1993. Sua morte deixou uma grande lacuna no filme, ou como o próprio diretor metaforiza, “uma cadeira de duas pernas que não consegue ficar de pé sozinha”. Sluizer, quase completando 80 anos em 2012 e atacado por uma doença que enfraquece suas artérias, se sentiu no dever de colocar uma “terceira perna na cadeira” para que ela possa ficar de pé sozinha enquanto ainda podia.

Um casal de atores, Harry Fisher (Jonathan Pryce) e Buffy (Judy Davis), viaja em sua segunda lua-de-mel pelo deserto do Arizona, quando o carro apresenta um defeito e os deixa ilhados, com nada além de deserto em todas as direções. As circunstâncias fazem com que Buffy saia para buscar ajuda, ela acaba encontrando um jovem que mora como um eremita (River Phoenix), que oferece ajuda para saírem desta situação, ou… ficarem presos a ela.

Phoenix entrega uma ótima interpretação, como o estranho e problemático eremita que vive no cenário de testes nucleares, e que não tem vergonha de admitir que se sente solitário, o maior problema do personagem é não ter um nome. A estranheza do personagem não se limita à sua interpretação, ela corre em seu sangue, e em sua mente perturbada, tornando difícil deduzir se o personagem é confiável ou não.

George Sluizer conseguiu “colocar de pé a cadeira com três pernas” de uma maneira sutil, completando as cenas faltando com fotografias acompanhadas da narração do roteiro. Surpreendentemente o filme se sustenta bem desta forma, e possivelmente se sustentaria sem as cenas que faltam, exceto talvez por uma falta de continuidade, como quando o personagem de Phoenix chama Buffy para lhe mostrar algo, e a cena seguinte não foi filmada.

Longe de ser uma obra prima, mesmo se tivesse sido completado, Dark Blood cai em certas armadilhas que ele mesmo prepara, cedendo a clichês e decisões nada racionais tomadas pelos seus personagens, apenas para manter a narrativa numa linha de ação sem desvios ou reviravoltas. Apesar de seus defeitos, a paixão do diretor fica evidente durante a projeção, este que precisou agir com urgência, revirando o passado, correndo contra o tempo para entregar ao público um filme imperdível antes que tenha um fim trágico. O filme é um presente para aqueles que contribuíram através do crowd-founding para a pós-produção.

Crítica publicada como parte da cobertura da 37° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Cinemascope - Dark BloodDark Blood

Ano: 2012.

Direção: George Sluizer.

Roteiro: Jim Barton.

Elenco principal: River Phoenix, Jonathan Pryce, Judy Davis, Karen Black.

Gênero: Suspense, Thriller.

Nacionalidade: EUA, Reino Unido, Holanda.



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