Por Guilherme Franco

Um homem, um ar falso de calmaria, como que uma tempestade metamorfoseada em uma simples e suave brisa. A história começa com o protagonista Piotr (Itay Tyran) examinando o lugar no qual construiria uma casa para sua esposa, um terreno na família de sua amada. Ele, vindo da Inglaterra, mostra bastante empatia com seu cunhado, e junto com a família dela, organizam a festa de casamento. Tudo está indo bem para a festa que se iniciará em breve, até que acha o esqueleto de alguma criatura enterrado debaixo de uma árvore.

A maior parte do filme é um alongamento do período da festa dentro da elipse da narrativa. Os principais acontecimentos acontecem durante a celebração da união de Piotr e Zaneta (Agnieszka Zulewska). Demon é um filme que tende a aterrorizar, mas fica na linha da possessão e do suspense de forma quase poética. O roteiro não se aprofunda o suficiente na questão pessoal do protagonista, e muitas questões relacionadas a família dele não são colocadas, estas questionadas pelos próprios personagens durante o longa. O maior ponto no qual o filme se concentra e quer mostrar é como a sociedade do senso comum não consegue estabelecer um diálogo consciente com a ciência e o valor dos sentimentos afetivos. Na hora do desespero, a amizade realmente não vale nada, e isso, ao invés de simplesmente assustar, é o que o filme realmente coloca em cheque: uma reflexão sobre a morte, principalmente como esta foi colocada na obra, uma ignoração total de um passado que um dia foi feliz e cheio de esperanças.

Vários aspectos tradicionais da cultura polonesa são mostrados: como quebrar a taça de vidro no chão durante a celebração do casamento e as muitas doses de bebida alcoólica pura, que não escaparam nem ao personagem que se dizia distante desta há muito tempo. A câmera começa seguindo os movimentos e como se fosse o início de uma subjetiva do próprio cenário, espaço que atua como protagonista e proporciona planos e movimentos de câmera que poderiam ser explorados com mais intensidade. A música é honestamente colocada, sem excessos e sem viagens, que aguça a vontade de procurar por músicas tradicionais polonesas. O diretor utiliza uma fotografia com muitos tons marrons amarelados, pastéis acinzentados e brancos, contrastando algumas vezes com os tons verdes e azuis que dão o ar de atualidade. A casa principal do filme, lembra muito o visual da casa de Seligman em Ninfomaníaca, só que mais sombria e carregada de sentimentos não resolvidos.

A possessão de Pietr acontece aos poucos e bem lentamente durante a obra. Como A Bruxa, não é um filme essencialmente assustador, um thriller de terror, mas um retrato da sociedade mascarado de mistério e esoterismo. O que a ciência não explica, o ser humano carrega de simbologias e como o próprio encerramento do filme aponta, dá um jeito de se livrar.

DemonDemon

Ano: 2015

Direção: Marcin Wrona

Roteiro: Pawel Maslona

Elenco Principal: Itay Tiran, Agnieszka Zulewska, Andrzej Grabowski

Gênero: drama, suspense

Nacionalidade: Polônia

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