Deserto Particular (2021) dirigido e roteirizado por Aly Muritiba é uma história de amor e afeto que nos liberta da clausura dos desejos estandardizados, padronizados, repetidos e reencenados por nós mesmos, todos os dias. Com uma passagem bem-sucedida pelos festivais de cinema do país, o filme se destaca no horizonte da indústria cinematográfica e foi a escolha para representar o Brasil e tentar uma vaga no Oscar 2022.
Em Deserto Particular, Daniel (Antonio Saboia) é um policial exemplar que vive em Curitiba. Após cometer um crime duvidoso, ele acaba colocando a sua carreira e sua honra em risco. Em meio a esse caos, o protagonista ainda precisa cuidar da sua irmã mais nova e do seu pai, que parece sofrer com uma doença terminal. Quando mais nada parece fazer sentido em sua vida, Daniel decide ir em busca de Sara (Pedro Fasanara), uma mulher que vive no sertão da Bahia e com quem o protagonista se relaciona virtualmente.
O filme, tedioso durante os seus primeiros 30 minutos, adquire um fôlego revitalizante a partir da viagem do protagonista. Em meio à viagem, a narrativa e a paleta de cores do filme vão mudando gradativamente: saímos dos tons frios e cinzas da cidade grande para os tons pastéis e quentes do deserto de Petrolina. Assim, um mistério inquietante serve de recurso para nos apresentar, vagarosamente, as camadas de uma grande história de amor…
E não qualquer história. Uma história de amor que atravessa fronteiras geográficas, de gênero, orientação sexual e classe, expandindo os horizontes do desejo para nos mostrar, sutilmente, que a beleza do amor está na liberdade. Liberdade de ser e viver de formas múltiplas, independente das amarras e padrões comumente estabelecidos e perpetuados em nossa sociedade. Liberdade que atravessa o ser e convoca diferentes formas de existir.
É essa a potência do amor evocado em Deserto Particular (2021). Uma revolução, como bem sabemos, muda um estado de coisas para outro completamente diferente. A busca de Daniel traz à tona esse ímpeto revolucionário do amor: instaura uma revolução particular na intimidade do sujeito, a partir das micropolíticas do afeto e desejo. É uma renúncia às normas, convicções e cercas que nos aprisionam cotidianamente.
Dessa forma, Deserto Particular (2021) nos coloca diferentes questões, como: o que pode comandar afinal o desejo humano? De que forma podemos realizar efetivamente a liberdade de nossos desejos? O filme parece explorar com honestidade essas diversas facetas. nos colocando diante de uma história de amor que sensibiliza os espectadores mais livres e incomoda os preconceituosos e ressentidos.