Crescer é como um mergulho no desconhecido. Para a adolescente Chen Nian (Zhou Dongyu), simplesmente sobreviver sem ser levada pela correnteza ao seu redor parece uma tarefa mais difícil do que ser aprovada para estudar na mais concorrida universidade de Beijing. Logo no início de Dias Melhores (Shaonian de ni), somos levados à realidade dos alunos de uma escola de ensino médio na China. Mergulhados em livros e testes, eles estudam incansavelmente para o Gaokao, exame de ingresso na universidade nacional, do qual participam quase dez milhões de jovens. O futuro profissional desses estudantes (e, muitas vezes, a segurança financeira de suas famílias) depende da aprovação para ingressar no ensino superior.
Conhecendo um pouco mais sobre Chen Nian, descobrimos que ela é uma adolescente pobre, introvertida e solitária, cujo único objetivo é estudar para passar na prova. Sua mãe, uma mulher que vive de bicos e golpes, é toda a família que a jovem tem. Mas sua situação se torna ainda mais delicada após o suicídio de uma amiga da escola, que era vítima de bullying.
Por conta da investigação policial que começa a ser realizada no colégio, os mesmos colegas que atormentaram a amiga de Chen Nian passam a vê-la como o próximo alvo. A garota acaba delatando o grupo liderado pela popular Wei Lai (Zhou Ye) como responsável pelos atos contra a colega morta. A partir desse momento, sua vida se torna um verdadeiro inferno.
O novato detetive Zheng (Yin Fang) até tenta ajudar Chen Nian, mas acaba sendo incapaz de protegê-la. É quando ela conhece Xiao Bei (Jackson Yee), um rapaz sem estudos e propenso à violência, que ganha a vida com pequenos roubos. O jovem criminoso e a aluna exemplar estabelecem uma espécie de amizade, apesar de suas diferenças, e ele promete defendê-la dos valentões da escola. A partir dessa conexão, uma inusitada história de amor começa a se desenvolver.
Infelizmente, Xiao Bei não pode estar ao lado (ou atrás) da amiga todo o tempo, o que abre uma brecha para os momentos mais indigestos do filme, nos quais aqueles que não participam ativamente das agressões simplesmente se acovardam e olham para o outro lado. Sem esperança de ser ajudada pelas autoridades, a garota apenas suporta o bullying e continua estudando fervorosamente para o exame… até que uma tragédia acontece.
Embora a história se apoie em alguns estereótipos (como o bad boy que se apaixona pela garota certinha e estudiosa), as atuações do casal são tão sutis e comoventes que é impossível segurar as lágrimas quando o drama envolvendo o futuro dos dois se desenrola. De forma delicada e destemida, o diretor Derek Tsang traz à tona a enorme pressão e as limitadas perspectivas da juventude chinesa, em um contexto que gera pessoas tão imersas em cobranças sociais que, muitas vezes, elas deixam de lado a empatia e até mesmo a humanidade com relação ao próximo.
O longa foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e se tornou um verdadeiro sucesso de bilheteria na China, em um movimento de conscientização sobre o bullying que talvez indique que melhores dias estejam por vir – como diz o título. Embora a história da jovem Chen Nian seja triste e muitas vezes revoltante, ficam na mente as palavras de Oscar Wilde, citadas em uma das cenas: “Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estão olhando para as estrelas.”