Quando recebi o convite para a cabine de imprensa de Encontros (2019), pensei na hora que se tratava de um remake do filme Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual (2011). Primeiro pelo poster que lembrava muito o do filme argentino. Outro ponto foi a ideia principal dos filmes: dois desconhecidos que formariam um par ideal moram muito próximos e vivem se esbarrando diariamente, mas não se veem de fato. A dúvida era, seria possível contar uma história original e interessante utilizando a mesma “desculpa” que um anteriormente produzido? Para minha grata surpresa, foi.

Pra começar, Encontros é uma película francesa, logo as formas de ver o mundo e de produzir filmes acabam sendo diferentes, assim como se fosse um filme brasileiro, estadunidense, etc. Outro ponto é que os acontecimentos do filme fazem com que os personagens Rémy Pelletier (François Civil) e Mélanie Brunet (Ana Girardot) precisem buscar ajuda de analistas para resolver a falta de sono de um e o excesso de sono da outra. Isso faz com que muito do que descobrimos do passado dos dois  e que nos ajudar a entendê-los seja dito da sala de terapia. O que dá ao filme certa agilidade e uma boa desculpa para que os personagens digam o que sentem e pensam. Isso dá pistas do que vem a seguir e o que pode fazer com que os dois personagens finalmente se encontrem.

Assim como em Medianeiras, durante a construção da possibilidade de encontro dos dois protagonistas o filme discute o cenário da sociedade contemporânea. Os dois personagens têm uma vontade muito grande de se conectar com pessoas, mas a missão, apesar das facilidades modernas, não parece ser das mais fáceis. Aplicativos como similares do Tinder são usados para buscar alguém para conversar, mas os encontros são vazios e, muitas vezes, se resumem a sexo fácil.

O que achei mais interessante é que apesar desses problemas iniciais, o filme não tem um grande caso para ser solucionado, uma reviravolta ou algo do tipo. Até mesmo essa busca por alguém segue mais como uma aventura, uma vontade que vai junta de tantas outras exploradas no filme. Como a busca por resolver coisas antigas com os pais, o que não torna o filme um romance ou algo do tipo. Talvez encaixaria melhor em “as dificuldades do jovem adulto contemporâneo”. Dificuldades estas que podem ocorrer na França, na Argentina ou até mesmo aqui no Brasil.

Encontros é um filme feito para minha geração que está chegando aos 30 anos agora. Nós aos poucos percebemos que as histórias que contaremos para nossos filhos serão muito diferentes do que nossos pais nos contávamos. Principalmente aquelas de “como eu conheci sua mãe”. Isso, é claro, se é que teremos filhos. E, mais que isso, a história não coloca um ponto final nas questões levantadas, nem mesmo nos destinos dos próprios personagens. Isso é ótimo. As melhores obras são justamente aquelas que levantam diversas questões mais do que entregam uma história fechadinha, com um único ponto de vista possível. Bom, me senti representado, se você está nessa mesma onda, tem uma grande chance de também compartilhar desse mesmo sentimento. 

Encontros

Ano: 2019
Direção: Cédric Klapisch
Roteiro: Cédric Klapisch, Santiago Amigorena
Elenco principal: François Civil , Ana Girardot Camille Cottin , François Berléand
Gênero: Drama
Nacionalidade: França, Bélgica

Avaliação Geral: 4