Por Joyce Pais
“O que é novo também envelhece”. A frase, dita por uma senhora no filme, parece não só dar o tom a trama como destaca a eterna insatisfação humana na busca contínua por algo que está sempre por vir, que pertence a um futuro idealizado, logo, inalcançável. Entre o amor e a paixão (Take This Waltz, da canção homônima de Leonard Cohen) fala de desejos, escolhas e de suas consequências, e um dos seus méritos está em fazê-lo sem julgamentos.
Margot (Michele Williams; Sete Dias com Marilyn), uma escritora que há tempos não escreve o que gosta, é casada com Lou (Seth Rogen; O Besouro Verde), um escritor de livros de receitas relacionadas a frango. A aparente tranquilidade e harmonia do casal é abalada quando ela conhece Daniel (Luke Kirby; Mambo Italiano), a química entre eles é intensa e imediata. Ao descobrir que Daniel é seu vizinho, vai ficando cada vez mais difícil esconder os seus sentimentos, que não se limitam somente ao desejo carnal. Ela e Daniel vivem momentos durante o forte verão de Toronto, o erotismo deles aumentado pelo fator proibição. Justo ela, que não gosta de “ficar entre as coisas” e tem “medo de ficar com medo”, passa a lidar com uma situação de ambiguidade.
A diretora canadense Sarah Polley foi eficiente ao repetir suas parcerias bem sucedidas. Indicada ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado com o seu filme de estreia, “Longe Dela” (Away from her; 2006), Polley se aliou ao diretor de fotografia Luc Montpellier (Cairo Time, Longe Dela) e ao compositor Jonathan Goldsmith (O Super Lobista, Longe Dela) para compor as sensações, texturas e gostos idealizados.
Margot tem uma natureza melancólica e insegura. Quando ela se dá conta de que chegou aos trinta e o conto de fadas prescrito durante a vida da maioria de nós cai por terra, que seu casamento precoce (o casal em muitos momento beira a infantilidade) se transformou em rotina, ela passa a se questionar e enxergar as coisas por outro ângulo, desejando cada vez experimentar novidades, estas representadas pelo espírito desprendido de Daniel.
Inteligente a maneira como as relações das dulpas Margot/Lou e Margot/Daniel foram construídas. Ao equilibrar os dois lados da balança fica difícil para o espectador tomar partido ou torcer para que ela escolher um ou continue com o outro, já que fica nítida uma afinidade natural com ambos.
Outro ponto positivo foi a escolha de Sarah Silverman para o papel da irmã alcoólatra de Lou, Geraldine. A comediante indicada ao Emmy (The Sarah Silverman Program) teve um desempenho relevante, concentrando, talvez, o peso mais dramático do longa. O deslocamento de sentido, que trouxe uma figura tão emblemática do humor e a levou ao drama com sutileza e longe de estereótipos, confirmou um trabalho de direção bastante afinado.
Destacaria como a melhor cena de Entre o Amor e a Paixão, o jogo de insinuações entre Margot e Daniel na lanchonete. As cenas foram gravadas, propositalmente, no segundo dia de filmagem. Polley queria captar o estranhamento e desconforto real entre os atores, que naquela altura ainda não haviam desenvolvido nenhum grau de intimidade.
O longa não é moralista e não cai no simplismo de oferecer uma saída fácil; ele não denigre um dos lados para induzir/facilitar a decisão de Margot e assim, forçar uma identificação do espectador. As alegorias presentes na cena final nos dão a resposta que passamos ao longo do filme buscando.
Entre o amor e a paixão (Take this Waltz)
Ano: 2011
Diretor: Sarah Polley.
Roteiro: Sarah Polley.
Elenco Principal: Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirby, Sarah Silverman.
Gênero: Comédia.
Nacionalidade: Canadá/Espanha/Japão.
Veja o trailer:
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