Pés femininos, trilha sonora e referencias à história do cinema, está tudo lá em Era uma vez em… Hollywood. Tudo que um filme do diretor Quentin Tarantino tem. O nono longa da mente por trás de obras como Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), Kill Bill (2003) e Bastardos Inglórios (2009). A produção, estrelada por nomes de peso como Brad Pitt e Leonardo DiCaprio, conta a história dos bastidores de Hollywood na década de 1960, mais precisamente no ano de 1969. Nesse período, a guerra do Vietnã estava a todo vapor e os hippies viviam aos montes pelas ruas.
O filme conta a história de Rick Dalton (DiCaprio) que busca uma forma de se firmar como ator de longas. Em paralelo, acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos relacionados ao seu dublê Cliff Booth (Pitt) que, além de fazer as partes difíceis para o ator, ainda é um baita quebra galho dirigindo carros e até concertando antenas de televisão. Em meio aos acontecimentos envolvendo os dois, passamos por figuras marcantes da década como Bruce Lee (Mike Moh), Steve McQueen (Damian Lewis), Roman Polanski (Rafal Zawierucha), Sharon Tate (Margot Robbie) e Charles Manson (Damon Herriman).
A relação entre esses três últimos nomes, Polanski, Tate e Manson na vida real é uma peça importante para a construção do longa. Não saber o que eles têm em comum pode tirar um pouco do efeito de certas cenas. Se você não conhece a história, vou te contar rapidamente para que você fique a ver navios durante a sessão. Na década de 1960 um grupo de hippies viviam numa comunidade liderados por um indivíduo chamado Charles Manson e se denominavam “a família Manson”. Charles era um psicopata que influenciavam jovens a seguir seus ensinamentos e assassinaram uma série de pessoas. Uma das vítimas, talvez a mais famosa, é justamente Sharon Tate que foi morta enquanto estava gravida. Sharon, na época, era esposa do diretor Roman Polanski que estava em alta por ter lançado o filme O Bebê de Rosemary (1968).
Visto isso, Tarantino faz uma salada de coincidências, encontros e desencontros entre esses personagens. Boa parte do filme ficamos à espera de assassinatos e a cada momento que vemos a trupe de Manson, um arrepio sobe a espinha sobre o que virá a seguir. O que talvez seja um “problema” nesse roteiro, é que não ter essas informações pregressas, de quem foram essas figuras e os acontecimentos envolvidos, fazem o filme perder a potência. Imagino que quem nunca ouviu falar desses personagens vai ficar intrigado de por que essas pessoas estão sendo mostradas. Os mais inteirados vão ficar tensos sabendo que muitos estão expostos a um grande perigo estando tão próximos da família Manson. Certamente é um filme para cinéfilos.
Mas, o grande problema do filme é sua duração. Apesar de ser interessante ver os bastidores da Hollywood de 1960, e essas figuras icônicas surgindo, chega um momento que fica meio cansativo. Dá a sensação que nada acontece. Isso é uma característica do cinema de Tarantino de ficar “enrolando” a história para um final mais chocante, mas aqui ele pega pesado. Nesse ponto, os mais desavisados podem se desinteressar pelos rumos da história.
No fim, fiquei pensando o quanto de verdade estava contida no filme, visto que muitas partes (que vou preferir não dar spoiler aqui) o diretor alterou e criou uma versão da história só dele. Algo bem parecido com o que ele fez em Bastardos Inglórios. Além disso, fiquei pensando que Brad Pitt tá bem velho, hein? Acho que revisito tanto seus filmes da década de 1990 que para mim ele tem a mesma cara de sempre. Em compensação, sua atuação é uma das melhores do filme e seu personagem é um dos mais interessantes e, talvez, o mais sensato de todos.