Por Joyce Pais

Era uma vez eu, Verônica mostra a rotina de uma médica recém-formada que entra em uma nova fase de sua vida e passa a lidar sozinha com os problemas de saúde do seu pai, ao mesmo tempo em que seus dilemas pessoais estão à flor de pele. Dessa forma, durante toda a projeção, Verônica questiona suas escolhas e o seu modo de ser.

O longa tem como cenário a cidade de Recife e esse pode ser considerado o primeiro acerto do diretor Marcelo Gomes. Seja na beleza das ondas do mar que quebram nas pedras do entorno, no caótico e decadente centro comercial ou até no desfile de Carnaval ao som de frevo, fugir do eixo Rio-São Paulo é um ganho para o espectador, que tem a possibilidade de entrar em contato com um universo pouco explorado no cinema nacional, que ainda carrega uma dificuldade tremenda em fazer uma leitura que fuja dos centros urbanos citados aqui.

Outro aspecto a ser destacado é a ótima trilha sonora, que caminha lado a lado com os dramas da protagonista; Tá tudo padronizado/No nosso coração/Nosso jeito de amar/Pelo jeito não é nosso não/Tá tudo padronizado/Me mira ira/Me mira, mas me erra, canta a recifense Karina Buhr em uma participação no filme.

Verônica acredita que tem coração de pedra, que não está à mercê de algum envolvimento afetivo-amoroso real, por isso aposta no sexo como fuga, como válvula de escape e, principalmente, meio de autoconhecimento, e é nesse parâmetro que entra Gustavo (João Miguel). Acostumado a personagens que ancoram a sua atuação e o engrandecem na tela, dessa vez, João Miguel é utilizado de forma contida e seu personagem se torna um “mero detalhe” quando comparado a dominância de Verônica que, diga-se de passagem, se deve muito ao ótimo desempenho de Hermila Guedes.

No entanto, o maior problema de Era uma vez eu, Verônica está na utilização do gravador como recurso narrativo servindo como ‘muleta’ para amparar a inabilidade em alcançar o que se pretende com a profundidade requerida, através da construção cênica. Seria como usar uma narração em off (voz do pensamento da protagonista, por exemplo) para dizer o que ela está sentindo, pensando, achando…enfim, o gravador é inserido como parte integrante da trama, mas o resultado final se torna simplista, raso e redundante.

O longa ainda reserva alguns momentos cômicos, a maioria deles fica por conta da excêntrica amiga de Verônica, definida como uma “romântica inveterada”, e do seu pai, Zé Maria (W.J. Sohla), com quem ela mantém uma relação invejável.

E não é a toa que o filme comece e termine na água. Esse elemento, como forma de purificação, pode ser um indicador da busca de Verônica; não se pode fugir do que somos em nossa essência, mas é possível fazer escolhas e vislumbrar um novo futuro, que rompa com o “modo de sentir padronizado”.

 

Cinemascope---Era-uma-vez-eu-Verônica-PosterEra uma vez eu, Verônica 

Ano: 2012

Diretor: Marcelo Gomes.

Roteiro: Marcelo Gomes..

Elenco Principal: Hermila Guedes, João Miguel e W.J. Sohla.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil.

 

 

 

 

Veja o trailer:

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