História de um casamento (2019), escrito e dirigido por Noah Baumbach, percorre o seu caminho rumo ao Oscar 2020. Isto porque o título, que entrou no catálogo da Netflix em 6 de dezembro, recebeu o maior número de indicações ao Globo de Ouro.
De modo mais ou menos coerente, é possível traçar uma unidade estilística entre os filmes de Baumbach. Tal como em outras obras, os icônicos A Lua e a Baleia (2005) e Frances Ha (2012) e outros títulos como Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe e Margot e o Casamento (2007), o cineasta se empenha em construir diálogos inquietantes, favoráveis à atuação de bons atores, um tanto verborrágicos, no sentido positivo da palavra. História de um casamento, senão o melhor de seus filmes, é com certeza uma obra fundamental para a legitimação de Baumbach como um grande diretor.
O filme, que oscila coerentemente entre o drama e a comédia, é centrado na história de Nicole Barber (Scarlett Johansson) e Charlie Barber (Adam Driver), um casal que está à beira de um divórcio.
A primeira sequência marca, em um tom adorável, o amor que um sente pelo outro. Acompanhamos o relato das cartas que Nicole e Charlie escreveram como ferramenta de mediação de conflito. No entanto, nenhuma personagem tem acesso à carta da outra. Daí à angústia em acompanhar o desenrolar da narrativa, uma vez que esmiuçamos, ponto a ponto, o motivo pelo qual o casal está se separando.
Charlie é diretor de uma companhia de teatro. Nicole é ex-atriz de Hollywood e a principal atriz da companhia de seu marido. Ambos trabalham juntos.
O conflito se instaura quando a atriz recebe uma oportunidade de voltar à Hollywood. Convicta de que viveu, durante todos esses anos, na sombra de seu marido, Nicole decide retornar à Califórnia e tomar as rédeas de sua vida. Aqui, o filme evidencia as posições assimétricas de poder entre homens e mulheres numa relação matrimonial. A instituição família entra em colapso no momento em que Nicole assume o protagonismo de sua vida. Neste contexto e, em meio ao embate dos cônjuges, uma terceira figura é peça central na relação matrimonial; Henry Barber, filho do casal. Sem o sucesso de uma separação amigável, ambos recorrem à advogados para disputar a guarda da criança.
A parte cômica do filme deve-se às atuações de Laura Dern (Nora Fanshaw) advogada de Nicole, e Alan Alda (Bert Spitz), advogado de Charlie. Na construção de caricaturas jurídicas, o humor apresenta-se nos conselhos que ambos advogados fornecem ao casal. Estes são tão impiedosos que, acreditamos, em certos momentos, que parte do conflito da separação deve-se à intromissão dos advogados na relação.
Assim, acompanhamos o declínio de um relacionamento, repleto de mágoa, ressentimento, disputa entre egos, traição, mas sobretudo… amor. Essa é a maior conquista do cineasta. A grandeza do filme está em não demonizar nenhuma personagem. Daí o modo brilhante como Baumbach conta a lamentável história de uma separação. Essa dosagem faz com que o espectador não consiga, de modo definitivo, escolher o lado de um protagonista ou outro. Lamentamos, o filme inteiro, pela derradeira separação do casal.
No final do arco narrativo, o autor retoma o começo do filme, a partir de uma outra perspectiva, tornando o texto ainda mais coerente. Com as atuações belíssimas de Scarlett Johansson e Adam Driver, História de um casamento é carregado de diálogos íntimos, perversos e profundos que se tornam ainda mais dramáticos com a sutileza que Baumbach conduz a câmera.