Uma matador profissional comete o último crime de uma longeva carreira. Seu rastro de sangue é composto por dezenas de assassinatos. Com a aposentadoria em mãos, um grande pagamento por um serviço realizado, ele cruza a América do Sul, saindo da Bolívia até o Paraguai, para conhecer a filha que nunca viu. Esta é o interessante plot de King Kong em Asunción, longa de Camilo Cavalcante e último filme do Festival de Gramado 2020, exibido no Canal Brasil.

Protagonizado por Andrade Júnior, ator brasiliense, o longa foca todos os seus esforços na construção do personagem do velho. Logo no começo percebemos que ele é um assassino de sangue frio que caminha sozinho, perdido na vastidão do mundo. A fotografia faz questão de mostrar seu isolamento ao enquadra-lo diminuído durante sua jornada, em contraste à imensidão de natureza. Boa parte do filme é dedicada a cenas do velho peregrinando por cenários que vão da estéril paisagem do Solar de Uyuni à verdejante floresta tropical do Paraguai.

De poucas palavras, o velho é um ser atormentado por seu passado e não consegue dormir pois à noite é visitado pelos fantasmas de suas vítimas. Ainda que se mostre arrependido, temos por ele pouca empatia, visto sua forma nada popular de ganhar a vida. Diante de uma atuação memorável do grande Andrade Júnior, acompanhamos cenas de carga emocional estrondosa como a confissão diante do espelho, o reencontro com o amigo e a noite na jaula com as garotas de programa.

Entretanto, King Kong em Asunción esbarra em alguns problemas. Um dos mais questionáveis é o fato do velho ser parcialmente bem recebido na casa de sua ex-companheira. Diante de uma ausência de tantos anos, o que é comum para homens que se deparam com a paternidade, seria de se esperar uma resistência maior por parte desse núcleo familiar desfalcado. Some-se a isso uma narração expositiva, usada para contar ao público os sentimentos do personagem, e o ritmo lento ditado pelas extensas cenas de caminhada e temos um grande filme com potencial mal utilizado.

O final proporciona alguma redenção ao apresentar visualmente a primeira fonte de traumas do velho. Fruto de uma trajetória de tormento, dor e violência, o personagem torna-se gigantesco pela atuação de Andrade Júnior em um de seus últimos trabalhos. De longe, ele merece ser premiado, ainda que King Kong em Asunción seja vítima de uma estilização desnecessária.

*Essa crítica faz parte da cobertura Cinemascope do Festival de Gramado 2020.

King Kong em Asunción

 

Ano: 2020
Direção: Camilo Cavalcante
Roteiro: Camilo Cavalcante
Elenco principal: Andrade Júnior, Ana Ivanova, Juan Carlos Aduviri, Fernando Teixeira,
Gênero: ​Drama
Nacionalidade: Brasil, Bolívia, Paraguai

Avaliação Geral: 2