Lady Bird: É Hora de Voar (Lady Bird) causou furor no ano passado, por ter conseguido obter uma classificação quase perfeita no site Rotten Tomatoes. Aclamado pela crítica, o filme independente escrito e dirigido por Greta Gerwig ganhou visibilidade e conquistou o público norte-americano. Trata-se de história de Christine, uma adolescente ambiciosa que se autodenomina Lady Bird (interpretada com enorme sensibilidade por Saoirse Ronan).
Christine, ou melhor, Lady Bird está terminando o ensino médio em um colégio católico. Seu sonho é sair da cidade onde mora, Sacramento, e se mudar para Nova York, embora sua família não tenha condições financeiras para pagar por isso. A mãe, Marion (Laurie Metcalf, em um papel absolutamente fantástico e repleto de sutilezas), se mata de trabalhar em um hospital, enquanto o pai, Larry (Tracy Letts), acaba de ser demitido e não consegue arrumar outro emprego.
Arquitetando sua mudança para o campus de uma universidade distante e aguardando ansiosamente a oportunidade de abrir suas asas, Lady Bird passa os dias com a melhor amiga Julie (Beanie Feldstein) e começa a namorar um rapaz de seu grupo de teatro, Danny (Lucas Hedges). A ingenuidade das paixões adolescentes e a pureza da amizade entre as duas garotas, mesmo nenhuma dela sendo perfeita – ou justamente por isso – é o que permite a identificação do espectador com a narrativa. Contar uma história que soa clichê de maneira única é um tremendo desafio; entretanto, nas mãos competentes da diretora, o filme ganha frescor e graça.
Embora a protagonista seja um pouco egoísta e cheia de opiniões (nem sempre muito maduras ou sensatas), ela representa de maneira extremamente verossímil essa fase confusa e fabulosa chamada adolescência. Mesmo quando Lady Bird deixa de lado a amiga verdadeira para entrar no grupinho da garota mais popular, mesmo quando sente vergonha de não ter dinheiro e finge ser rica, mesmo quando se apaixona pelo convencido bad boy que toca em uma banda (quem nunca?), ela não é nada menos que humana. O importante é vê-la compreender seu lugar no mundo e crescer.
Até os desentendimentos constantes com a mãe são situações pelas quais toda pessoa que já foi adolescente passou algum dia. “Minha mãe está sempre brava”, reclama Lady Bird para o namorado. A jovem não entende que os pais simplesmente não sabem como ajudá-la e isso os deixa frustrados. Em uma discussão, Marion chega a falar que a filha se considera no direito de dizer qualquer coisa, pensando que isso nunca machuca ninguém. “O que quer que a gente te dê, nunca é suficiente”, ela desabafa. No fundo, o que Christine queria era apenas um pouco de espontaneidade, mas ela ainda não é capaz de entender todos os conflitos da vida adulta e se conectar com a mãe – uma mulher que, no fundo, é tão parecida com ela mesma.
Passar para uma nova fase de nossas vidas é algo difícil e assustador, principalmente quando ainda não nos sentimos preparados para isso. Todos nós já fomos jovens e tivemos vontade de abraçar o mundo, mas acabamos percebendo que nem sempre a realidade é como imaginamos. “Desculpe se eu queria mais do que isso”, a protagonista se justifica, em uma das cenas mais comoventes do filme. Ela acaba descobrindo que amadurecer envolve aprender a ver as coisas de fora, para poder colocar tudo em perspectiva. Às vezes, só o que precisamos é encontrar, em nós mesmos, um pouco de gratidão.