Por Sttela Vasco

Um personagem que deixa tudo para trás, arruma as malas e parte em uma viagem sem roteiros ou se embrenha pela natureza em busca de autoconhecimento. Essa é a receita ideal para filmes motivadores e que têm no abandono da rotina a fórmula para compor um roteiro cheio de questionamentos sobre a vida e a existência. E é justamente nessa leva que Livre (Wild) vem.

Dirigido por Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas) e baseado no livro “Livre – A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço”, de 2012, o longa narra a história real de Cheryl Strayed, uma mulher que, após perder a mãe começa a mergulhar em um mundo de drogas e sexo sem compromisso. Com o fim do casamento e cada vez mais próxima do fundo do poço, ela decide mudar sua vida radicalmente. Para isso, inicia o percurso da Pacific Crest Trail, uma trilha de 1100 milhas que percorre a costa oeste dos Estados Unidos, indo da fronteira com o México até o Canadá.

O ritmo do roteiro é o mesmo que o de uma caminhada por uma longa trilha. Avança aos poucos e tem seus momentos de mais e menos fôlego, o que faz com que o espectador perca um pouco o interesse em determinadas partes. Alguns momentos de tensão, no entanto, também se fazem presentes e conseguem chamar a atenção de volta à tela.

Reese Witherspoon se adapta bem ao papel, conseguindo transmitir veracidade e convencendo com sua interpretação firme. Não à toa, concorre ao Oscar de Melhor Atriz por conta da obra. Ela, aliás, é um dos pontos altos da adaptação. Conduz bem as cenas em que Cheryl se vê no fundo do poço e também as de libertação.

A fotografia é espetacular. Com paisagens da bela costa oeste norte-americana como cenário, o longa todo é um encanto aos olhos. Das cenas sob um escaldante sol de deserto às feitas em meio à neve, todas conseguem agradar e encantar. A trilha sonora também é bem utilizada, com trechos inseridos como parte dos pensamentos da protagonista, se adequando com maestria às vivências de Strayed.

O longa ganha ao saber mesclar trechos do passado de Cheryl com o caminho percorrido ao longo da PCT. As razões que a levaram até ali são apresentadas aos poucos e o roteiro consegue amarrar todas as pontas que abre durante a narrativa. A “virada” que podemos fazer em nossas vidas e as lições que podemos aprender ao nos desprendermos – além de uma dose de “perdoe a si mesmo antes de seguir em frente” – são o mote do longa, que entretém, mas não tem fôlego o bastante para abalar quem o vê.

Falta um pouco mais de empatia. Apesar de algumas cenas beirarem à emoção, Cheryl não é exatamente a protagonista que te faz torcer e se comover por ela. Sua jornada em busca de si mesma é louvável e inspiradora e os momentos mais difíceis de sua vida de fato emocionam, mas a sensação não se mantém ao longo da obra. Chega-se ao fim de Livre exatamente como quem percorreu 4.200 quilômetros: satisfeito pelo que trajeto cumprido, mas aliviado por finalmente o ter concluído.

livre posterLivre (Wild) 

Ano: 2014

Diretor: Jean-Marc Vallée

Roteiro:  Nick HornbyCheryl Strayed

Elenco Principal: Reese Witherspoon, Gaby Hoffmann, Laura Dern.

Gênero: Drama, Biografia

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

Veja o trailer:

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