MATANGIA/MAYA/M.I.A. é outra obra que faz parte do conjunto de títulos que eu estava ansioso e curioso para assistir este ano. Faz anos que acompanho o trabalho da M.I.A. e sou fã de suas músicas, com videoclipes incríveis e melodias contagiantes ela fazia parte das minhas corridas e divagações no ócio artístico.

O que me levou a ansiar por essa obra foi que eu esperava algo experimental e um trabalho enorme com a trilha sonora e sua música, achava ela um gênio por ter canções tão incríveis e ser tão jovem, uns 25 ou 27 anos. Mas não, ela não tem 25 anos, e sim 42. Sua carreira foi muito mais politizada do que isso, ela já foi namorada – e muito mais famosa que – o DJ Diplo antes mesmo de todo o auge que ele tem hoje. Ela tem filhos e já foi indicada a um Oscar e Grammy no mesmo ano. O documentário de Steve Loveridge traz exatamente essa questão através de uma investigação biográfica com a artista, ele não vai na linha de algo experimental ou uma narrativa paralela, mas sim faz um belo panorama da história da vida da garota de Sri Lanka, filha de um ativista / refugiado político que conquistou todas as paradas musicais  em determinado momento.

O interessante de MATANGI/MAYA/M.I.A. é justamente nessa desmitificação de sensos comuns através da artista, ao decidir contar junto com ela a história de sua vida, usando muito material de arquivo muito bem montado, o filme consegue te transportar em uma viagem no tempo para todo arco de construção da carreira dessa mulher. Uma questão muito interessante que a obra aborda é sobre a imagem de M.I.A. com que a mídia construiu, odiada por pessoas do seu país por protestar a favor deles, mas também chamada de hipócrita na mídia ocidental por ser ativista e ao mesmo tempo ter fama e dinheiro. Como em uma cena em que a jornalista Lynn Hirschberg do The New York Times vai até sua casa para escrever um perfil dela e leva uma comida cara e no texto publicado ela diz que M.I.A. falava de toda a luta do povo de seu país enquanto comia essa comida.

Além de ser uma biografia, é uma grande relato sobre o trabalho da imprensa, de construir e desconstruir diariamente personagens e histórias na busca do lucro e de atingir a leitura das massas, o viral.

Outro ponto que é muito interessante na vida de M.I.A. foi que ela começou a sua vida estudando documentário, audiovisual. O diretor decide não explorar tanto isso, usa muito mais as imagens-diários da protagonista para construir essa continuidade de narrativa e que faz o espectador entrar na intimidade e se sentir aberto a compartilhar entrar e assistir a história de M.I.A.

 

*esta crítica faz parte da cobertura do Cinemascope no Indie Lisboa – Festival Internacional de Cinema de Lisboa

Matangi/Maya/M.I.A.

Matangi/Maya/M.I.A.

Ano: 2018
Direção: Steve Loveridge
Roteiro:
Elenco principal: M.I.A.
Gênero: ​Documentário
Nacionalidade: EUA, Reino Unido

Avaliação Geral: 4