Moonrise Kingdom precisa ser visto com a delicadeza que merece ser analisado um filme de Wes Anderson. Sim, porque à primeira vista, pode parecer não passar de mais um longa-metragem alternativo sobre dois adolescentes que descobrem o amor e a sexualidade.
Com um enredo peculiar e escolhas precisas de posicionamento de câmera, tons e cores de objetos de cena e de planos que parecem ter sido milimetricamente preparados para a ação, o diretor conduz o espectador a uma sensação de carinho.
Os personagens são cativantes, embora simples.
Na verdade, toda preocupação excessiva que Anderson e Coppola parecem ter tido com cada detalhe facilitou essa sensação de simplicidade que envolve a plateia, conforme o filme acontece.
Logo nos primeiros minutos somos apresentados à figura do narrador (Bob Balaban – Sem Reservas, 2007) que, apesar de parecer um leprechaun de casaquinho vermelho e capuz verde, já dá o tom que todo resto do filme tem: algo de lúdico, pueril, fofo.
Com muita sutileza, os inocentes personagens parecem ter saído de um sonho: desde a trupe de Escoteiros Cáqui, cujo líder é o desengonçado Chefe Ward (Edward Norton – O Ilusionista, 2006), até mesmo Captain Sharp (Bruce Willis – O Sexto Sentido, 1999), o chefe da polícia local, que tem um tom quase de super-herói aposentado.
E é com essa atmosfera idílica de fantasias de animais, barracas amarelas estampadas, um acampamento e uma tempestade iminente que se desenvolvem os acontecimentos. Sam (Jared Gilman), um garoto órfão de 12 anos e integrante dos Escoteiros Cáqui, conhece a jovem Suzy (Kara Hayward) e ambos planejam uma fuga, mobilizando seus pais adotivos, os pais de Suzi, o policial e duas tropas inteiras de escoteiros para encontrá-los.
Numa jornada que tem um quê de Onde Vivem os Monstros (Spike Jonze, 2009) mesclando-se com histórias contadas por Wendy aos meninos perdidos de Peter Pan (Disney, 1953), a viagem deles pela ilha acaba nos revelando muito mais do que se a narrativa fosse conduzida pelos adultos.
Entramos em contato com a maturidade dos diálogos proporcionada por uma inversão de papéis, na qual crianças agem como adultos e vice-versa. Além disso, o amor, a sexualidade, a lealdade e a traição são colocados em pauta de um jeito que só as crianças conseguem ver.
Sam, antes considerado um escoteiro nada bom por seus colegas de tropa, acaba provando ser um exímio sobrevivente na selva. Sua mochila é equipada com absolutamente tudo, inclusive um estoque de iscas de pesca, que depois são transformadas em pares de brincos.
Suzy, considerada uma criança problemática por seus pais, leva consigo uma mala de livros, um binóculo, uma bolsa vermelha, uma tesoura, um tocador de discos e seu disco preferido, e seu gato e um estoque de comida felina. Curiosamente, todos esses elementos foram apresentados nos primeiros minutos de Moonrise Kingdom, já que a primeira casa que conhecemos é a casa de Suzy.
Essa inversão pode ser percebida pelo comportamento dos outros escoteiros, que acabam tomando mais responsabilidades do que os adultos com quem contracenam e também pelo casal Bishop, cujo comportamento muitas vezes é infantilizado pela qualidade de suas roupas e ações dentro de casa.
A trilha sonora aparece compondo com a atuação de um jeito diferente. O que, superficialmente, parecia um mero distanciamento crítico dos atores em relação aos seus personagens, se analisado com a música, toma forma de brincadeira de criança. A todo momento somos apresentados a cantigas de corais infantis ou marchinhas que nos levam a entender o teor do jogo com qual os personagens estão envolvidos.
A fotografia, além da meticulosidade já comentada no início do texto, deixa clara a obsessão pelo vermelho e amarelo, constantes em todo filme.
Uma das melhores sequências do filme é a da dança na praia. Aí, especificamente, entendemos a maioria das escolhas da equipe técnica, principalmente em relação aos estreantes Sam e Suzy.
Moonrise Kingdom está concorrendo ao Oscar de melhor roteiro original. Não é uma história primorosa, mas encanta pela simplicidade e pelo prazer que temos ao entrar em contato com um roteiro como esse.
Ano: 2012
Diretor: Wes Anderson.
Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola.
Elenco Principal: Bruce Willis, Bill Murray, Jared Gilman, Kara Hayward, Edward Norton, Frances McDormand, Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Bob Balaban e Harvey Keitel.
Gênero: Comédia.
Nacionalidade: EUA.
Veja o trailer:
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