“Porque nunca houve experiências mais radicalmente desmoralizadas que a experiência estratégica pela guerra de trincheiras.” (Walter Benjamin, Experiência e Pobreza, 1933).
Vencedor de diversas categorias no César de Cinema entre elas: Melhor Diretor, Melhor Fotografia e Melhor Figurino, Nos Vemos no Paraíso é um filme francês, adaptado do romance de Pierre Lemaître e dirigido por Albert Dupontel.O filme é narrado por Albert Maillard (Albert Dupontel), um ex-contador que participou da 1° Guerra Mundial ao lado de Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart), um excelente desenhista. A narrativa é contada por meio de um longo flashback que perpassa o entrave entre França x Alemanhã nas trincheiras até o presente, quando Albert Maillard foge para a África.
Deslumbrante é a primeira sequência do conflito dentro das Trincheiras, que caracterizaram grande parte da 1° Guerra Mundial. A câmera cava e percorre como um soldado desesperado o entremeio da trincheira, e ao redor, é possível perceber a angústia dos soldados franceses que aguardam o Fim da Guerra.
A narrativa se desdobra quando o Tenente Preadelle (Laurent Lafitte) insiste em uma investida sem sentido contra os alemães e para conseguir isso, mata e forja um ataque aos próprios soldados Franceses. Explosões, bombas e corpos mutilados se despersam pelo ar como pó. A cena é brilhante, ainda que devastadora. Em uma tentativa de um resgate heróico, Édouard o jovem desenhista, retira Albert dos escombros, mas é atingido por uma bomba que descaracteriza parte de seu rosto.
A partir disso, os dois desenvolvem uma grande amizade (mesmo que as personalidades de ambos sejam completamente diferentes) e Albert falsifica a morte de Édouard para a família do jovem soldado. A narrativa se desenrola no pós-guerra e em torno do esquema de corrupção que o Tenente Preadelle desenvolve para lucrar com os corpos das vítimas da guerra.
Édouard é um artista. Um brilhante artista. E as cenas em que o personagem aparece cultivando o domínio estético são espetaculares. Com o rosto deformado, o artista cria diferentes máscaras e com isso, encarna diversos personagens durante o filme. O figurino é espetacular, as máscaras coloridas transitam entre o macabro e a cômico. Os desenhos do artista são apresentados ao espectador como modo de sensibilizá-lo. Uma clara oposição entre o rosto grotesco do artista e a beleza de seu talento. Porém o diretor não se contenta com a dicotomia feio/belo, e em uma das cenas mais significativas, somos apresentados a uma jovem garota que absorve e vê a beleza em um rosto onde poucos apreciariam.
Os ex-soldados, Edouard e Albert se unem à jovem garota e começam a produzir desenhos e catálogos para concorrer ao prêmio da criação de um monumento em homenagem aos soldados da guerra. No conflito, descobrimos que o Tenente Preadelle se casou com a irmã de Édouard e que o Pai do desenhista – um corrupto com uma influente empresa – rigoroso e descrente com o dom de seu filho – e que acha que o mesmo foi morto durante a guerra – será o homem que financiará a construção do monumento.
Com uma reviravolta clássica, um final um tanto quanto clichê, a obra entra para o cinema de arte Francês com grande estilo. Ainda mais, com as belíssimas cenas em que Édouard aparece vestindo as diferentes máscaras. Atuações brilhantes; destaque para os dois protagonistas e a jovem menina que entram em uma sintonia calorosa durante o desenrolar da narrativa.
Nos vemos no Paraíso é um bom exemplo de como a experiência da guerra e aqui, parafraseando Walter Benjamin, pode desmoralizar os diferentes indivíduos envolvidos, porém, no filme de Dupontel, somos apresentados a uma reconciliação com a vida por meio da arte.