O Céu e a Geleira

Por Guilherme Franco

O filme de Luc Jacquet (que ganhou o Oscar de melhor documentário em 2006 por A Marcha dos Pinguins) coloca como protagonista e comandante da viagem, o explorador francês Claude Lorius, um eterno senhor de 23 anos de idade que conta brevemente como começou sua paixão, ou fixação, pelas paisagens de gelo. Ao participar de uma expedição pela Antártida, nunca mais parou de desbravar e descobrir cenários antes nunca explorados pelo ser humano. Seu ojetivo não era somente descobrir locais desconhecidos, mas ver como era um pouco da vida há alguns mil anos atrás.

“O homem nunca é ele mesmo ao enfrentar a adversidade”. (Claude)

O Céu e a Geleira é uma obra de arte que mistura a documentação poética de uma história a paralelos científicos das inovações decorrentes dos estudos da Estação Charcot (base de estudos do grupo de Lorius). Os traços característicos do diretor são a voz off (que muitas vezes tem Claude aparecendo na tela) e a imagem reflexivamente filmada. Somos levados a repensar e refletir sobre a história a partir do que vamos ouvindo ao longo da narrativa. A trilha sonora com as imagens da natureza perspicazmente filmada, além da narração, formam o conjunto que deixa o filme poético e trazem o ar de ficção. Sem características clichês do documentário como as entrevistas talking heads, o filme aborda os estudos realizados a partir de 1957 por Claude sobre a relação entre a história do planeta e o futuro da civilização.

Além das filmagens em câmera lenta e ângulos que fogem do usual, o diretor optou pela utilização de imagens de arquivo para construir a narrativa. Os obstáculos de Claude e sua equipe são gravações realizadas em expedições anteriores do cientista. Todo o drama e emoção é construído pela voz que narra a história. “A busca por conhecimento mantinha-nos sãos”, afirma Claude. É interessante questionar-se sobre a discussão levantada no longa: o futuro do planeta e a forma com que problemas climáticos são colocados e até ignorados, de certa forma. “Palavras são assinadas, acordos realizados, e a previsão continua a tomar forma”, conclui o protagonista.

O Céu e a Geleira (La Glace et le Ciel)