Por Domitila Gonzalez
Alguns filmes surpreendem. E para quem pensou que O Vencedor seria só mais um hollywoodiano falando de boxe, repleto de lutadores deformados e câmeras lentas com o foco em gotas de saliva voando, posso dizer que fui surpreendida. Não que não haja tudo isso, muito pelo contrário. Tudo está presente, mas também há a complexidade dos personagens, um roteiro espetacular e um elenco sensacional.
Micky Ward (Mark Wahlberg) sempre viveu à sombra de Dicky Eklund (Christian Bale), que foi o boxeador astro da família numerosa e singular durante a maior parte de suas vidas. Mas quando o irmão mais velho opta pelo crack e pelas fugas desesperadas e constantes pela janela direto para o lixo, seu irmão mais novo, com o apoio da atual namorada e garçonete Charlene Fleming (Amy Adams), resolve mudar a estratégia de luta, deixar pra trás as tutorias de Eklund e todas as competições perdidas e comandadas por ele para treinar de verdade.
O cenário muda, as derrotas tornam-se vitórias e a fama do irmão mais novo cresce. Depois de passar um tempo na cadeia e ver o próprio fracasso representado em um documentário da HBO, Dicky insiste em voltar a treinar Micky, mas não sem antes discutir com os pais, o atual treinador e a cunhada. Indo contra a decisão da maioria, Ward concilia os dois treinamentos e se consagra com um nocaute de tirar o fôlego de qualquer um.
A primeira coisa a ser destacada é o tamanho de Mark Wahlberg neste filme. Em uma palavra: assustador. Ele está enorme e, diferentemente do nosso conhecido lobinho Taylor Lautner, que mudou da água pro vinho no intervalo de um filme para o outro, Wahlberg começou o processo de escultura corporal cerca de quatro anos antes do começo da filmagem. Um processo válido, já que o verdadeiro Micky Ward também era grande – dê um Google e veja se eu estou mentindo.
Por outro lado, vemos nosso querido homem-morcego, Christian Bale, retornar na pele do irmão doidão de Ward, ex-boxeador e atual protagonista de um documentário sobre usuários de crack, produzido pela HBO.
O contraste entre os dois personagens vai além da diferença física. Apesar de também lutar, Eklund está representado visivelmente mais magro, descontrolado e impulsivo (ou instintivo, como preferir) que o seu irmão, que parece sempre precisar de orientações para dar o passo seguinte.
As cenas de luta estão bem coreografadas e conduzidas. Porém o verdadeiro Micky que me desculpe, mas o vencedor não foi ele, nem o treinador, nem a família, nem Mark Wahlberg e sim Christian Bale, com uma performance impecável durante todo o filme, digna de elogios e aplausos intermináveis de pé.
Ao seu lado, outro destaque com indicação mais do que merecida como melhor atriz coadjuvante, a experiente e estonteante Melissa Leo, interpretando a mãe de nove filhos e filhas tão loucos quanto a ideia de uma mãe querendo agenciar seu filho lutador.
A dupla roubou todas as cenas. Todas. Bale tem meu voto para melhor ator coadjuvante e se ele ainda não te convenceu, vale à pena esperar um pouco no final do filme e conferir um pequeno diálogo real entre os irmãos boxeadores que em 30 segundos fará com que você acredite no poder de absorção de personalidade de um ator competente.
Ponto para ele. Para eles, para a produção, para a direção espetacular de David O’Russel e o roteiro que, com uma equipe de primeira, apostou na verdade, na emoção e na criatividade para criar um filme campeão.
Ano: 2010.
Diretor: David O. Russell.
Roteiro: Sott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson, baseado na história de Mark Ward.
Elenco Principal: Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo, Mark Wahlberg.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: EUA.
Veja o trailer:
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