Por Lívia Fioretti
Na última semana ouvi opiniões diversas acerca do oitavo filme de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados. Há quem acredita ser um novo clássico do diretor americano e há aqueles que acham que o diretor pirou de vez e está se tornando uma cópia fajuta de si mesmo.
O filme inicia-se com uma diligência cortando as florestas do Wyoming – estado localizado na região norte dos Estados Unidos (você já vai entender a relevância dessa informação). Ela carrega o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell), que leva sua prisioneira, a assassina Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), para a forca na cidade de Red Rock. No caminho, encontram duas personagens perdidas nas neves: Major Marquis Warren (Samuel L Jackson), um ex soldado nortista que se tornou caçador de recompensas, e Chris Mannix (Walton Goggins), ex confederado que afirma ser o novo xerife da cidade.
A aproximação de uma nevasca faz com que os viajantes precisem realizar uma parada no caminho: Minnie’s Haberdashery, o principal cenário da trama. No armarinho encontram-se os outros quatro personagens: o ex general da Confederação Sanford Smithers (Bruce Dern), o vaqueiro Joe Gage (Michael Madsen), o carrasco britânico Oswaldo Mobray (Tim Roth) e Bob (Demián Bichir), responsável pelo estabelecimento. A partir daí, a obra combina um conto de Agatha Christie com uma analogia interessante à sociedade moderna – sem esquecer de uma dose extra de sangue e cabeças explodindo, claro.
O curioso é que Tarantino constrói as personagens de uma forma que o espectador não tem para quem torcer – são todos patifes igualmente sujos e ordinários. Em uma mistura de Cães de Aluguel (indivíduos absurdamente violentos trancados em um espaço fechado) com Django Livre (o filme se passa alguns anos após o fim da Guerra Civil americana), a narrativa se torna um dos personagens (se não o protagonista) e mais uma vez consegue nos segurar com apenas tensões e palavras.
Fã de clássicos e dono de um fetiche pela forma como o cinema era produzido e consumido antigamente, Tarantino gravou Os Oito Odiados com lentes antigas para ser exibido em 70 milímetros – o que infelizmente não é possível no Brasil. É interessante ressaltar que o formato contribui muito para a experiência cinematográfica, afinal, no momento em que o espectador descobre que nem todos são o que parecem ser, o widescreen colabora para que o filme se torne um jogo de investigação onde examinar as feições dos personagens e os detalhes da trama entregam pistas sobre o curso que o filme irá tomar. Claro que isso só é possível graças à atuação impecável do elenco (que consegue diminuir a falta do queridinho Christoph Waltz): Russell dá vida a um anti-herói repugnante e magnífico, Jackson atrai absolutamente todos os olhares, Roth conquista com uma simpatia dissimulada e Leigh assusta com humor e controle demoníacos. Os mais atentos esperam o aparecimento de um suposto colírio cujo nome encontra-se nos créditos iniciais, mas já aviso que sua participação é a única que deixa a desejar.
Considerando que são 3 horas de filme em menos de 10 cenários, há momentos em que a narrativa fica maçante e é normal dar aquela olhadinha no celular para checar o horário. Entretanto, Tarantino garante momentos de se agarrar na cadeira e se perguntar o quão louco ele ficou. Questionador e sangrento, Os Oito Odiados pode não ser o melhor filme do diretor, mas com certeza é mais um no qual ele conseguiu transmitir perfeitamente sua marca de autoria.
Os Oito Odiados (The Hateful Eight)
Ano: 2015
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Elenco principal: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh.
Gênero: Faroeste
Nacionalidade: EUA
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