Por Joyce Pais
Escandalosamente hitchcockiano. Assim pode-se definir o novo longa de Brian de Palma, Passion (refilmagem do francês Crime de Amor, lançado em 2010). Ainda que a intenção (e a inspiração) sejam as melhores, o resultado final infelizmente é apenas uma ideia do que a obra poderia ter sido.
O filme adentra o mundo dos negócios, mais especificamente o da publicidade, para desnudar as intrigas e armadilhas que transcorrem nos bastidores de uma grande corporação multinacional. Rachel McAdams (Amor Pleno), a femme fatale da vez, é Christine Stanford, uma bem sucedida mulher de negócios, que tem uma devota e dedicada assistente, a Isabelle James (Noomi Rapace; trilogia Millenium). Quando Isabelle tem suas ideias roubadas, Christine entra num jogo perverso de dominação e humilhação, que se intensifica ainda mais quando sua assistente passa a ter um caso com um de seus amantes.
E é interessante ver De Palma inserido num contexto mais do que atual – o das relações mediadas pelo virtual. A propaganda elaborada com um mobile, a conferência via Skype, as onipresentes e cúmplices câmeras por todos os cômodos da casa e da empresa.
Aos poucos a persona de cada personagem entra em cena de forma assustadora, onde os limites para conseguir o que se almeja parecem não existir. Rachel cultiva suas relações como se fossem peças de um jogo particular que ela sente prazer em comandar. Relações estas sempre relacionadas ao prazer, seja ele sexual ou sádico; a constante presença de espelhos só não consegue superar a máscara com a feição de Rachel – materialização de seu egocentrismo.
Apesar de o elenco central ser formado por boas atrizes seguras e ousadas, a falta de progressão na composição das personagens custou ao filme uma maior identificação com a relação da dupla. Não há uma crescente lógica na trajetória de Rachel e Noomi rumo ao trágico fim que se anunciava desde o início.
Passion encontra o seu maior problema no roteiro. O ritmo (falho) estabelecido no longa, reiterado por uma trilha sonora que acentua a tensão na tela, o longa peca pelas demasiadas reviravoltas concentradas do segundo pro terceiro ato. O excesso de turning points trouxe somente ruídos desnecessários à narrativa.
Em uma sequência-chave do filme, temos um inconfundível split screen de De Palma que tem como intenção precípua desviar a atenção de quem assiste enquanto expõe como tudo é feito de simulacros e simulações – teatro, ballet, publicidade, as relações, crimes, a vida. O próprio cinema, a arte da manipulação.
Infelizmente, a expectativa de ver transpirar sensualidade e passion se limitou ao título do filme.
Ano: 2012
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Brian De Palma, Natalie Carter (roteirista de Crime de Amor)
Elenco principal: Rachel McAdams, Noomi Rapace, Karoline Herfurth.
Gênero: Suspense, Drama
Nacionalidade: França, Alemanha
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