Por Katia Kreutz
De tempos em tempos, surgem assuntos capazes de alterar os ânimos e levantar polêmicas. A política brasileira sempre foi um ótimo tema de debate, especialmente nas redes sociais – seja qual for o partido de sua preferência. Esquerda ou direita, o que se tem descoberto é que a sujeira está por todos os lados. Não é sempre, no entanto, que se descobre esquemas de corrupção tão revoltantes quanto o investigado pela Operação Lava Jato, envolvendo a Petrobras, um grupo de grandes empreiteiras e parlamentares.
Justamente no feriado de 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, estreia o longa nacional Polícia Federal – A Lei é Para Todos. Inspirado em fatos reais, o filme cobre os eventos ocorridos entre março de 2014 e março de 2016, acompanhando o trabalho de um grupo de investigadores da Polícia Federal nessa que foi uma das maiores operações anticorrupção do país, gerando centenas de apreensões e levando dezenas de criminosos à cadeia.
A história sofre do mal de não ter um protagonista muito bem definido. A narrativa transita entre os delegados da Polícia Federal Ivan (Antonio Calloni), Bia (Flávia Alessandra) e Julio (Bruce Gomlevsky), dando alguma ênfase também ao Juiz Sérgio Moro (Marcelo Serrado), peça chave na investigação da Lava Jato. Curiosamente, os roteiristas alteraram os nomes dos agentes da polícia, mas o do juiz e dos réus foram mantidos.
Apesar de algumas interpretações competentes do elenco global, particularmente de Antonio Calloni e de Ary Fontoura, alguns personagens – no caso, os bandidos – acabam sendo representados de maneira caricata. O próprio diretor do filme, Marcelo Antunez (dos sucessos de bilheteria Até que a Sorte nos Separe 3: A Falência Final e Qualquer Gato Vira-Lata 2), admitiu ter pesado um pouco a mão no heroísmo dos policiais – os mocinhos da história.
Embora o longa se esforce para mostrar vários lados da situação e não tomar partidos, já que político nenhum neste país parece ser livre de culpa, é bem possível que o espectador tire algumas conclusões ao final do filme, juntando suas próprias referências e opiniões aos fatos retratados na tela. Fica evidente a intenção dos realizadores de “abrir os olhos da população” para crimes hediondos e absurdos que acontecem no âmbito político desde o descobrimento do nosso país. Nesse sentido, é bem possível que os 16 milhões de reais aplicados nas cenas de ação e de investigação (visivelmente inspiradas em filmes e seriados policiais norte-americanos) atraiam a curiosidade do grande público, para depois tentar doutriná-lo sobre a necessidade de “fazer alguma coisa”, mesmo que o mal pareça sempre estar vencendo.
Com uma direção adequada, ainda que pouco ousada, Polícia Federal – A Lei é Para Todos tem ritmo, é um filme bem executado e, em sua maior parte, envolvente. A narrativa em off, um recurso bastante didático, poderia ter sido dispensada, mas na falta de outra função pelo menos ela é usada para mover a história adiante. Em alguns momentos, o longa resgata imagens de arquivo – já que a Operação Lava Jato foi amplamente divulgada pela mídia. Vale ressaltar, entretanto, que não se trata de um documentário. Embora fundamentada por um trabalho minucioso de pesquisa, a produção é apenas uma visão da realidade, uma licença poética para questionar a passividade do povo brasileiro perante políticos sem escrúpulos.
Como retrato dos fatos reais, o filme pode ser acusado de inverossímil, tendencioso, estereotipado, sensacionalista. Como longa policial e de ação, gêneros tão pouco explorados no cinema brasileiro, é certamente um passo à frente. Como produto cultural capaz de levantar debates e questionamentos sobre nosso papel na política do país, só saberemos qual será o legado de Polícia Federal – A Lei é Para Todos depois de sua passagem pelas salas de cinema.
A frase de Ruy Barbosa, que abre o filme, também poderia ser usada para sua conclusão. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” Quando as luzes se acendem, parte do público pode até dar risadas, alguns já esperando as continuações dessa história – que promete ser longa… Outros simplesmente irão se levantar da poltrona envergonhados por viverem em um país onde a lei ainda não é, de fato, para todos.
Polícia Federal – A Lei é Para Todos
Ano: 2017
Direção: Marcelo Antunez
Roteiro: Thomas Stavros, Gustavo Lipsztein
Elenco principal: Antonio Calloni, Marcelo Serrado, Flávia Alessandra, Bruce Gomlevsky, João Baldasserini, Roberto Berindelli, Ary Fontoura
Gênero: Ação, Policial
Nacionalidade: Brasil
Veja o trailer: