O mito medieval de Robin Hood, ao lado de outras lendas com um pé no real como o Rei Arthur e o Santo Graal, já foi trabalhado mais de uma dezena de vezes no cinema. A primeira aparição do encapuzado foi em 1922, com o grande Douglas Fairbanks no papel principal. Agora as telonas recebem um novo longa focado no bandido que rouba dos ricos para dar aos pobres. Com a história amplamente conhecida, Robin Hood – A Origem enfatiza o processo de formação do jovem fora da lei.

Dirigido por Otto Bathurst, que debuta aqui no seu primeiro filme para cinema, a produção tem um elenco conhecido nos papeis principais: Taron Egerton é Robin, Jamie Foxx interpreta Little John, Ben Mendelsohn é o Xerife de Nottingham, Eve Hewson dá vida à Mariam e Tim Minchin aparece como o Frei Tuck. Baseada na versão mais famosa da fábula, vemos o nobre Robert Loxley ser chamado para batalhar nas Cruzadas. Ao retornar ele encontra a população de sua cidade natal oprimida por um governo corrupto e decide resolver a questão por conta própria.

A partir daí, o longa se desenvolve dentro da clássica jornada do herói. Dividida em três atos, a fórmula nos mostra o processo de amadurecimento de Robin e sua gradativa transformação no ladrão de coração justo. Contudo, ao caminhar dentro do conhecido, a trama falha em surpreender o público. Os argumentos que sustentam as motivações dos personagens são frágeis e geram pouca simpatia. Em grande parte, essa questão é gerada no roteiro que entrega um texto piegas, repleto de linhas sofríveis e mal colocadas. O exemplo mais constrangedor, talvez, seja a frase de Mariam proferida para Robin: “Se não você, quem? Se não agora, quando?”. Dita em meio a uma batalha feroz, a beleza e o impacto da máxima são reduzidos e transformam um ponto de virada em pura comédia.

O script anêmico também influencia no trabalho dos atores. Os personagens são rasos e não superam seus arquétipos. Robin é o herói, Mariam é a donzela, Little John é o mentor e Frei Tuck é o alívio cômico. Com isso, as interpretações se mostram pouco inspiradas e têm como calcanhar de Aquiles a relação entre Mariam e Robin. Egerton e Hewson demonstram pouca química na tela e o romance acaba por diminuir o ritmo do filme. Se existe um destaque, este fica com Ben Mendelsohn que mais uma vez incorpora um vilão convincente, assim como fez no ótimo Jogador No 1.

Vale avisar que, mesmo se passando na idade média, o título não possui qualquer tipo de curadoria histórica. Portanto, não espere muita coerência de época, mas sim uma reprodução completamente livre de embasamentos teóricos. Na Nottingham medieval de Robin Hood – a Origem as ruas são asfaltadas, os moradores são limpos, as pessoas usam óculos e o figurino é bem contemporâneo.

Outro ponto que também fica aquém do seu potencial é a técnica empregada no longa. O CGI é aparente nas externas das grandes cidades bem como nas sequências de perseguições de carroças. Já as cenas de ação não resistem à manjada desaceleração de movimentos e acabam por não impressionar.  Os enquadramentos, que caminham dentro do óbvio, possuem seus momentos mais inspirados quando adotam uma postura subjetiva e concedem ao longa um ar semelhante ao dos games modernos. Porém, o estilo câmera na mão torna as batalhas confusas e tira do espectador qualquer senso de localização. Como resultado, vemos cenas que exigem muito da suspensão de descrença, com direito a cavalos correndo em andaimes no ato final.

Tamanhos desarranjos são coroados pela falta de camadas da película. Robin Hood – A Origem aborda os temas padrões do mito como a discrepância entre classes, a corrupção nos governos e a intransigência da igreja medieval, de forma superficial. O que vemos na tela é tudo o que há para se ver. Na tentativa contar um outro lado da lenda, o diretor e os roteiristas criaram apenas mais um pastiche que em nada acrescenta ao espectador moderno.

Robin Hood – A Origem

 

Ano: 2018
Direção: Otto Bathurst
Roteiro: Ben Chandler, David James Kelly
Elenco principal: Taron Egerton, Jamie Foxx, Ben Mendelsohn, Eve Hewson, Tim Minchin
Gênero: ​Ação, Aventura, Thriller
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: 2