Selvagens

Por Wallacy Silva

Há um bom tempo que ando batendo na tecla dos filmes baseados em livros, e pelo visto continuarei, as adaptações simplesmente não chegam ao fim. Eis mais uma: Selvagens, de Oliver Stone, conta a história de Ben (Aaron Johnson) e Chon (Taylor Kitsch), uma dupla de amigos que produz uma das melhores maconhas do mundo domesticamente, em Laguna Beach. Os amigos “dividem” Ophelia (Blake Lively) e vivem tranquilamente, levando o negócio com o mínimo de violência possível. Mas então o Cartel de Baja, liderado por Elena (Salma Hayek) aparece com uma proposta (que está mais para imposição) de sociedade com os jovens. Em um primeiro momento eles recusam, mas quando os mexicanos sequestram Ophelia se inicia uma verdadeira guerra.

Já fica explícito, logo no início, um dos grandes defeitos da produção: o excesso de narração em off denuncia um roteiro que não conseguiu condensar o que gostaria do livro em duas horas, ou que teve dificuldade para transformar isso em ação, em imagem… e bom, sendo assim, vai na narração mesmo, e essa dura uma eternidade. O filme melhora muito quando cessa a voz de Ophelia a explicar tudo e todos. Enquanto isso a tela é preenchida com imagens de diferentes estilos, sob vários filtros, o que parecia mais um floreio do diretor, mas que acompanha o longa até o fim, intensificando diversas cenas. A trilha sonora é cuidadosa, mas apresenta muito “mais do mesmo” – em uma cena tensa como na do sequestro toca música clássica; e na cena em que Ben e Chon estão decodificando cartões com dados de Elena parece que somos transportados para A Rede Social.

As atuações são de destaque na medida em que os personagens permitem tal destaque, como acontece com Aaron Johnson e Salma Hayek, talvez porque os seus personagens são os que mais sofrem mudanças ao longo da história. Ben começa como um jovem pacífico, budista, engajado em causas sociais, e que ao final se equipara a quaisquer um dos outros selvagens traficantes. Já Elena é a forte e impenetrável líder do Cartel de Baja, mas quando encontram a sua fraqueza ela se desmonta em vulnerabilidade (a cena em que ela tira a própria peruca só reforça a condição a que ela chega). É uma pena que Demian Bichir esteja em um papel tão terciário depois de demonstrar seu talento em Uma Vida Melhor. E Blake Lively encarna uma irritante garota que, mesmo estando em cativeiro, só consegue pensar em compras, usar a internet e reclamar que não aguenta mais pizza, de modo que fica difícil de acreditar que Ben e Chon estejam se sacrificando tanto por ela. Mas é Elena que mata a charada: os dois amigos na verdade se amam muito, caso contrário não aceitariam dividir Ophelia. Eles gostam da garota porque, de fato, ela é uma das únicas coisas que os une.

O balanço de Selvagens é um filme bom, mas sem grandes inovações, em uma trama em que todos estão sujos, todos caminham pela mesma lama em busca apenas do benefício próprio. Ao fim o longa sugere um significado amplo para a palavra ‘Selvagem’, que pode ser simplesmente um retorno ao estado real ou primitivo do ser humano, mas agora é tarde – o que vai ficar marcado ao fim é só violência atrás de violência.

Selvagens (Savages)