Por Diêgo Araújo
O primeiro longa-metragem solo da cineasta brasileira Juliana Rojas (Trabalhar Cansa, 2011) foi apresentado pelo elenco, durante o Festival Janela Internacional de Cinema do Recife, como um filme que faz homenagem aos clássicos da Disney e ao cinema brasileiro da década de 1980, buscando inspiração em produções que marcaram época, como Lua de Cristal (1990). A razão é óbvia, visto que Sinfonia da Necrópole é auxiliado, durante toda a sua execução, por musicais que ajudam na construção da narrativa.
No longa, Deodato (Eduardo Gomes) é um aprendiz de coveiro que não leva jeito para a profissão. A sua rotina, no entanto, ganha um upgrade quando a administração do cemitério decide reformá-lo com o intuito de aumentar a quantidade de túmulos disponíveis para venda. Nesse momento surge Jaqueline (Luciana Paes), que abala não apenas as estruturas da necrópole, mas também do coração do rapaz.
O título e o roteiro do filme fazem referência ao documentário Sinfonia da Metrópole (1929), de Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny. De forma semelhante ao longa produzido no final da década de 20, que mostra o rápido processo de modernização, crescimento e ocupação da capital paulista, o trabalho de Juliana Rojas faz uma crítica à apropriação e realocação de espaços, porém, em escala reduzida, restringindo-se à necessidade cada vez mais crescente de desocupar túmulos em cemitérios para o sepultamento de novos corpos. A produção aborda a forma leviana com que esse processo geralmente ocorre e tenta mostrar a importância de executar o procedimento por meio de estudo detalhado e contato direto com as famílias dos falecidos.
Apesar de partir de uma problemática original e ainda pouco discutida no cinema brasileiro, o filme se perde em alguns momentos em sua estrutura narrativa, fato que é auxiliado pelo excesso de piadas e a interferência dos números musicais, que mesmo sendo bastante divertidos e criativos, pouco reforçam a ideia central da trama.
Se fosse construído utilizando animação digital, com a retirada de algumas cenas mais pesadas e a redução na idade dos personagens centrais, Sinfonia da Necrópole poderia perfeitamente divertir o público jovem e adulto, assemelhando-se a obras infantis mais ‘sombrias’ que nos últimos anos vêm ganhando destaque nos cinemas, como Frankenweenie (2012), ParaNorman (2012) e Coraline (2009). Talvez a intenção do longa seja, acima de tudo, entreter o público. Nisso, a sua qualidade é inquestionável.
A incoerência do filme ao retratar um problema sério de forma tão cômica – e romântica –, no entanto, torna-o menos impactante do que deveria e mais superficial do que seria necessário para considerá-lo uma grande obra, embora seja um programa imensamente divertido para ver em grupo, principalmente em uma sala de cinema lotada.
*Crítica publicada originalmente como parte da cobertura da 7° edição do Festival Janela Internacional de Cinema de Recife.
Ano: 2014
Diretor: Juliana Rojas
Roteiro: Juliana Rojas
Elenco Principal: Eduardo Gomes, Paulo Jordão, Germano Melo, Adriana Mendonça
Gênero: comédia, musical, romance
Nacionalidade: Brasil
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