Por Joyce Pais

Inspirado no livro “Renato Russo: O filho da Revolução”, de Carlos Marcelo (que também atuou como consultor do roteiro), Somos tão jovens pega embalo em um ano especial para os admiradores de uma das bandas de maior prestígio e popularidade do país, a Legião Urbana; que vem acompanhado do filme Faroeste Caboclo, com previsão para lançamento ainda neste semestre e  do show com direito a holograma do líder da banda no estádio Mané Garrincha, em Brasília, também previsto para 2013.

Pra quem viveu a juventude nos anos 80 sentirá nostalgia ao ser transportado para o cenário de onde emergiu a cena do rock de Brasília. Além da Legião (que derivou da formação do Aborto Elétrico), essa geração rendeu nomes como Plebe Rude e Capital Inicial; ambas contaram com membros que transitaram entre os grupos, no que Renato denominou de “promiscuidade das bandas em Brasília”.

O filme, que já em sua abertura apresenta uma linguagem moderna, composta por ilustrações, uma mescla de imagens de Brasília e de fotos pessoais de Renato Russo, além de se aproximar de um público jovem em potencial, já diz que antes de qualquer coisa se trata de um filme sobre o líder da banda, e esse foco é mantido durante todo o longa.

Deixar o mito de lado e focar no humano por trás de sucessos como “Ainda é cedo”, “Tempo perdido” e “Que país é esse?” parecia uma difícil tarefa para o diretor Antônio Carlos da Fontoura, porém, ao explorar os dramas adolescentes de Renato Manfredini Jr. (Thiago Mendonça), ele se aproximou da complexidade que se traduzia em suas composições. Para quem tem conhecimento da discografia da banda, é interessante ver de onde surgiam as inspirações para muitas de suas letras.

Influenciado pelo punk inglês, principalmente pelo Sex Pistols, Renato realiza o seu sonho de montar uma banda, o Aborto Elétrico, circula pela cidade com o seu grupo de amigos e, a noite, invade “festas estranhas com gente esquisita”. Tentando chocar com os padrões da velha ordem, representada pela ditadura militar, algumas questões relevantes daquele momento político e cultural no Brasil são retratadas, mas quase sempre suavizadas pelo humor, o contexto político é pincelado em cenas como a que os jovens são retidos pelos militares ou em algumas falas do protagonista, nada muito aprofundado, o filme não levanta nenhuma bandeira e se coloca de maneira bem moderada. Cabe aqui citar a questão da homossexualidade, abordada de maneira bem delicada, com um quê de inocência típica da juventude e da primeira paixão platônica, o filme passou por isso com cautela, o que pode desagradar quem estiver esperando maiores polêmicas e/ou revelações nesse sentido.

Grande parte do sucesso do longa se deve a amizade de Renato com Ana Claúdia, a Aninha (interpretada por Laila Zaid de forma segura e muito eficaz). Retratada de uma maneira delicada a dupla dividiu diversos momentos ao longo dessa trajetória, inclusive a fase de descoberta da sexualidade do músico, as cenas mais dramáticas também estão focadas nesse relacionamento.

A breve aparição do personagem de Herbert Vianna (Edu Moraes), que apadrinhou a Legião, apesar de caricata, rendeu breves cenas cômicas. Já os pais de Renato, Dona Carminha (Sandra Corveloni) e Dr. Renato (Marcos Breda) foram colocados na trama de forma limitada e eu diria até constrangedora – eles realmente não precisavam ter falas tão desnecessárias e parecerem passivos e alheios o tempo todo, sem acrescentar nada que de fato interfira na narrativa. Outro ponto que realmente incomoda são os takes com “câmera na mão”, sobretudo nas cenas dos shows, a sensação que fica é mais a desconforto do que a de uma ‘atitude punk’  ou algo relacionado a isso.

Somos tão jovens pode ser, de certa forma, conservador, pouco ousado e em alguns momentos até didático, mas jogou luz sob os primeiros passos de um ídolo cujo legado permanece até hoje, e o fez de maneira digna. A excentricidade, inconformismo e inquietação do “trovador solitário” que através do seu “movimento do tédio” criou a sua própria legião.

 

Somos tão Jovens (1)Somos tão Jovens 

Ano: 2013

Diretor:  Antonio Carlos da Fontoura.

Roteiro: Marcos Bernstein.

Elenco Principal: Thiago Mendonça, Sandra Corveloni, Marcos Breda, Laila Zaid.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

 

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