Em atuação avassaladora e deslumbrante, Kristen Stewart se eleva a um novo patamar de interpretação em seu mais recente filme, Spencer (2021). Já indicada ao Globo de Ouro como melhor atriz e rumo à indicação ao Oscar, a atriz incorpora com uma sensibilidade ímpar, a personalidade de uma das mulheres mais icônicas do ocidente: Lady Di ou princesa Diana.
Com direção de Pablo Larraín, diretor de Jackie ( 2016), Neruda (2016) e roteiro de Steven Knight (Peaky Blinders, 2013), Spencer (2021) narra o que poderia ter acontecido no final do casamento da princesa Diana. Os eventos se desenrolam nas festas de Natal de 1991 da família real britânica, enquanto a princesa constrói a ideia de se separar do Príncipe Charles (Jack Farthing) e cortar vínculos com a família real.
O filme não retrata os acontecimentos majestosos e emblemáticos da monarquia inglesa, mas se concentra na intimidade da vida de Diana. Retrata a relação de Lady Di com seus filhos e criados do castelo através de imagens do cotidiano ou de cenas que se passam inteiramente dentro de sua cabeça, como se fossem sonhos ou alucinações, concedendo ao filme alguns aspectos surrealistas e com forte carga psicológica.
Spencer ainda traça um paralelo com a história de Ana Bolena, segunda esposa do rei Henrique VIII e Rainha Consorte do Reino da Inglaterra, de 1533 até a anulação de seu casamento, dois dias antes de sua execução. A escolha do roteirista em intercalar ambas histórias dá profundidade ao filme, além de traçar paralelos entre duas figuras femininas que foram perfuradas pelas sutis, mas cortantes violências que parecem rondar o palácio real.
Há um símbolo que atravessa a narrativa de Spencer: o colar de pérolas de Diana, um presente do príncipe Charles para a princesa. O objeto expressa bem o dilema que a princesa vive e faz uma síntese do filme e de toda a trama. Isto porque o colar, de forma simbólica, representa toda beleza e elegância embutida na figura da princesa. Ao mesmo tempo, o objeto parece aprisioná-la, silenciá-la, uma vez que a joia repousa na altura da garganta, literalmente sufocando-a. Há, certamente, a construção de uma contradição: o que parece enaltecê-la, também a repreende.
Além da direção primorosa, poética e sensível de Larraín, aliada à fotografia impecável do filme, uma trilha sonora escolhida a dedo, uma paleta de cores geniosa, temos também a interpretação icônica de Stewart. Seja pelos trejeitos de Diana, a forma como a atriz incorporou a fala e o sotaque, bem como a representação do olhar vagante da princesa, Kristen entrega uma interpretação rica de nuances e detalhes. Todos esses elementos dão à obra um aspecto cult, no sentido positivo da palavra. Daí a beleza do filme, com diálogos ricos, enquadramentos impecáveis e uma atuação nunca vista antes realizada por Stewart.
Realizado com grandes nomes do cinema contemporâneo, Spencer (2021) com certeza se destaque pela qualidade estética e de interpretação dos seus atores. Com grande repercussão e projeção internacional, o filme se lança como uma das grandes apostas na premiação do Oscar em 2022.