Por Felipe Teixeira
Existem filmes sobre histórias incríveis que tinham tudo para serem espetaculares e acabam decepcionando por problemas de execução. Também há produções sobre histórias não tão sensacionais, mas que são realizados com tamanho capricho que acabam tornando-se filmes imperdíveis. Spotlight – Segredos Revelados é um deles.
Não que a trama de Spotlight seja fraca, pelo contrário. Baseado em fatos reais, o longa-metragem acompanha a saga dos quatro jornalistas investigativos da equipe Spotlight, do jornal Boston Globe, que desvendaram o escândalo sexual envolvendo crianças e dezenas de padres da Igreja Católica em Boston no ano de 2001 e depois conquistaram o Prêmio Pulitzer. A jornada pela qual os protagonistas do longa-metragem percorrem é admirável, mas o grande número de informações e envolvidos no caso poderiam tornar o filme arrastado e cansativo não fosse o excelente trabalho de atuação, roteiro, montagem e direção do longa-metragem.
Apesar do competente e estelar elenco, liderado por Michael Keaton, Rachel McAdams, Bryan d’Arcy James e Mark Ruffalo, o roteiro escrito por Tom McCarthy e Josh Singer não perde tempo abordando aspectos pessoais da vida dos jornalistas e direciona a trama para a complexa investigação que dura quase todo o filme. Por isso, pouquíssima informação sobre Mike Rezendes (Ruffalo), Robby (Keaton), Sacha Pfeiffer (Adams) e Marr Carroll (James), os repórteres da Spotlight que denunciaram a Igreja, é apresentada durante a projeção. O principal foco do roteiro é a determinação dos jornalistas em não fazer apenas uma reportagem bombástica, mas em provocar mudanças no absurdo “sistema” criado por padres e advogados em Boston. Todos os atores desempenham seus papéis sem exageros e conferem peso ao longa-metragem, com destaque para Keaton e Ruffalo (dois grandes atores que vem conseguindo se manter relevantes ao longo dos anos), que protagonizam um dos melhores diálogos da produção.
A grande quantidade de vítimas, repórteres e acusados em cena, além das inúmeras burocracias e dificuldades encontradas pela Spotlight na apuração dos fatos poderiam ser uma desvantagem para o filme, mas a parte técnica do longa-metragem é tão eficaz que Spotlight chega a ser um filme empolgante. A montagem dinâmica e eficiente de Tom McArdle, que constrói a sequência das cenas de forma ágil e de modo com que o espectador não fique confuso diante de tantos personagens diferentes, somada à direção de Tom McCarthy, que valoriza o trabalho em equipe da Spotlight em tomadas de câmera que exibem todos os repórteres em um mesmo quadro realizando suas funções, são os grandes trunfos do filme.
Em tempos de wi-fi, jornalismo preguiçoso e desespero por ‘likes’ em redes sociais, é inspirador para profissionais de qualquer área acompanhar quatro jornalistas se virando como podem com seus bloquinhos de notas e pilhas de documentos impressos em busca apenas da revelação da verdade. Da mesma forma, é fantástico que um longa-metragem sem extravagâncias ou efeitos visuais apelativos resulte em uma produção tão boa e que tem tudo para ganhar seu merecido reconhecido nas premiações a caminho.
Obs: A fantástica reportagem que deu origem ao filme está disponível AQUI.
Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight)
Ano: 2016
Direção: Tom McCarthy
Roteiro: Josh Singer, Tom McCarthy
Elenco principal: Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams
Gênero: Drama, Suspense.
Nacionalidade: EUA
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