É curioso reparar como alguns longa-metragens optam por não definir estruturas narrativas sólidas ao longo de suas projeções, rejeitando-se a apresentar grandes arcos dramáticos para seus personagens ou reviravoltas no roteiro a fim de tentar chamar a atenção dos telespectadores. Diretores como Richard Linklater, por exemplo, responsável por produções como Boyhood – Da Infância à Juventude e Jovens, Loucos e Rebeldes, têm como estilos autorais de direção justamente filmes nesse formato, que emulam situações cotidianas, banais, assim como a coprodução brasileira e argentina Sueño Florianópolis.

Na simples trama, o casal argentino recém-separado Pedro (Gustavo Garzón) e Lucrécia (Mercedes Morán) resolve viajar de carro com seus dois filhos adolescentes de Bueno Aires até Florianópolis, a fim de descansarem e descobrirem os próximos passos da vida da família. É assim que eles conhecem o também ex-casal Marco (Marco Ricca) e Larissa (Andréa Beltrão), que os ajuda a encontrar uma hospedagem para ficar na pacata cidade praiana durantes as férias.

Despretensioso do início ao fim, Sueño Florianópolis tem sua grande força na naturalidade das situações vividas por seus personagens. Não há vilões ou mocinhas com grandes objetivos em cenas, mas pessoas comuns experimentando sensações, discutindo qual será a comida da próxima refeição e vivendo a vida como acham melhor. Os diálogos também se aproximam do realismo, com personagens constantemente tendo problemas com o choque entre as línguas espanhola e portuguesa, pedindo para alguém repetir uma frase ou gritando “o quê?!” quando alguém que está distante precisa falar mais alto. Além disso, a eficiente direção de Ana Katz também contribui para esse tom quase improvisando do longa- metragem ao gravar grande parte das cenas com a câmera na mão, desestabilizada, seguindo os personagens de perto como se buscasse fazer parte da vida daquelas pessoas, seja em brincadeiras na beira do mar ou acompanhando pessoas rolando pela areia.

A falta de propósito dos personagens, que partiram em férias para se descobrirem e se apaixonarem, cada um ao seu tempo e maneira, é tão flagrante que por vezes o longa flerta com a monotonia. Mas quando é hora de ir embora do Brasil, vale a pena refletir sobre como as novas memórias vividas por cada um daqueles personagens tão reais, por mais que não sejam impactantes ou divisoras de águas, podem ter criado novos traços e ideias em suas personalidades, assim como na vida de qualquer ser humano que vivenciasse semelhante trajeto.

 

*Essa crítica faz parte da cobertura do 20° Festival do Rio.

Sueño Florianópolis

Sueño Florianópolis

Ano: 2018
Direção: Ana Katz
Roteiro: Ana Katz e Daniel Katz
Elenco principal: Mercedez Morán, Gustavo Garzón, Marco Ricca
Gênero: ​Drama
Nacionalidade: Brasil e Argentina

Avaliação Geral: 3,5