Por Joyce Pais
Filmado na Argentina, no bairro La Boca em Buenos Aires e na Patagônia, Tetro marca a volta do diretor Francis Ford Copolla, 72 anos,  a mira dos holofotes. Distante há mais de uma década dos estúdios, a última vez que fez dinheiro no cinema foi com “Drácula de Bram Stoker” (1992), hoje, as vinícolas as quais se dedica há um bom tempo são a fonte de recursos que financiam seus filmes e lhe trazem a tão sonhada liberdade e autonomia criativa que, em virtude de interesses mercadológicos, são negadas até para um artista consagrado como Copolla.Falar que Tetro é uma história sobre rivalidade é limitar uma obra que mostra de maneira latente como a experiência de um artista como Copolla pode render cenas belíssimas e marcantes. Filmado em preto e branco, o longa conta a história de dois irmãos, Benjamin (Alden Ehrenreich) e Angelo (Vicent Gallo), que após anos de distância se reencontram. Entrando em contato com um passado do qual um sempre tentou fugir e outro sempre tentou desvendar, aos poucos as lembranças são retomadas em cenas coloridas conduzidas com maestria pelo fotógrafo romeno Mihai Malaimare Jr.

Depois que o navio em que Bennie trabalha como camareiro quebra, o jovem decide ir ao encontro do irmão mais velho para tirar da cabeça dúvidas que carrega desde que este rompeu com o pai e deixou os Estados Unidos para embarcar na Argentina e se tornar “Tetro”. Bennie caminha pelas ruas vazias do bairro onde mora Angie – onde há uma emblemática pichação na parede escrito  “no sueltes la soga que me ata a tu alma” (não solte a corda que me prende à tua alma) – importante para a contextualização do drama vivido e compartilhado pelos dois.

O começo da narrativa nos dá pistas e indícios de uma intensidade suprimida entre os irmãos. O olhar de admiração do mais novo para o mais velho, bem como a preocupação de Tetro com a chegada de Bennie e, consequente, instabilidade emocional que lhe traria são caracterizados no primeiro contato dos dois e pela tensão instaurada no ambiente.

O mistério em torno da figura paterna é claramente a fonte da perturbação de Tetro, um escritor frustrado que divide seus anseios cotidianos com sua namorada Miranda (Maribel Verdú – O Labirinto do Fauno), a única que parece entender o ‘seu mundo’. Como a lâmpada que pisca ininterruptamente, a mente de Tetro persegue uma ideia genial que ele precisava ter para criar algo seu, com sua identidade.

Em Tetro, vida real e fantasia se fundem. A presença do teatro e da arte cênica no seu sentido mais original se manifestam pela influência das apresentações e da preocupação de ser visto a avaliado pela famosa crítica Alone (nome da atriz), que apesar de caricata e beirando o bizarro, é quem conduz o Festival da Patagônia, palco onde se conclui a trama, ou pelo menos, a parte essencial dela.

Destaque para a música “Naomi”, escrita pelo pai de Coppola, usada como tema e para a cena, que ao meu ver, é uma das mais belas do filme; Tetro e Miranda, ao som de um violão dedilhado são tocados pela iluminação que salienta o corpo nu da atriz espanhola.

Apesar da segunda metade da projeção denunciar algumas instabilidades, erros de continuidade como quando Bennie é atropelado ou Tetro desaparece de um quarto de hotel, e o desenvolvimento dos personagens ser um pouco raso frente às possibilidade e exigências da narrativa, o longa explora muito bem os altos e baixos não só dentro do complexo grupo, que é o familiar, mas das relações humanas em geral, além de marcar uma volta mais autoral do diretor.

 

Cinemascope---Tetro-PosterTetro

Ano: 2009

Diretor: Francis Ford Coppola.

Roteiro:

Elenco Principal: Vincent Gallo, Maribel Verdú, Alden Ehrenreich.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA/Espanha/Itália/Argentina.

 

 

 

Veja o trailer:

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