Sabe aquela sensação de que você está vivendo em círculos, repetindo as mesmas rotinas sem encontrar sentido nas coisas que faz? Como se nada realmente importasse? É assim que encontramos Evelyn (Michelle Yeoh, extraordinária), no início de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo / Everything Everywhere All at Once. Ela é uma imigrante chinesa vivendo com a família nos Estados Unidos: o marido que já não aprecia, o pai debilitado, a filha lésbica que só deseja ser aceita.
A família luta para manter seu negócio, uma lavanderia, e prepara as comemorações do Ano Novo chinês, tudo isso em meio ao processo de declaração do imposto de renda. É nessa confusão que Evelyn se depara com uma informação no mínimo reveladora: a existência de multiversos. Ela é contatada por uma versão de seu marido, Waymond (Ke Huy Quan), e descobre que pode acessar habilidades de seus outros “eus” – a chave para isso é fazer algo completamente inusitado.
Evelyn também acaba descobrindo que os universos estão entrando em colapso por conta de uma super vilã, Jobu Tupaki, que na verdade é uma versão de sua própria filha, Joy (Stephanie Hsu). A partir daí, ela precisa resolver as diversas questões que a atormentam, para encontrar seu poder e enfrentar o caos.
Sim, é difícil explicar a bagunça que o filme cria na cabeça do espectador. É preciso assistir para entender, porque Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo realmente faz jus ao nome. É uma história que consegue ser ao mesmo tempo estranha (por vezes, absurda), divertida, envolvente e emocionante, além de visualmente fascinante.
Os diretores e roteiristas (Dan Kwan e Daniel Scheinert – que se autointitulam os Daniels) já tinham desafiado os limites da realidade antes, com o interessante Um Cadáver Para Sobreviver / Swiss Army Man. Desta vez, trouxeram referências de todos os universos possíveis (desde Matrix até Ratatouille) para criar uma trama cujo maior mérito é tocar fundo em frustrações que são comuns a todas as pessoas: a dor de não ser compreendido, de amar e odiar a família ao mesmo tempo, de se sentir insatisfeito ou questionar as próprias escolhas na vida.
Certamente uma das frases mais impactantes do filme, que diz muito sobre as escolhas dos próprios criadores dessa salada mista de ideias e emoções, é: “se nada importa, então toda a dor e a culpa que você sente por não fazer nada da sua vida vão embora.” Porque, no fim, não importa mesmo o que poderia, deveria ou teria acontecido. Você pode estar lavando as roupas ou declarando os impostos, pode estar ganhando um prêmio importante no seu trabalho ou abraçando as pessoas que ama. Nada faz muito sentido, mas vivemos por aqueles pequenos momentos que significam algo mais profundo – e que fazem tudo valer a pena.