Não há mistério algum no enorme sucesso que Um Amor Inesperado fez nas bilheterias da Argentina. Esta comédia romântica do diretor estreante Juan Vera é protagonizada por uma dupla de astros locais – Ricardo Darín e Mercedes Morán – e entrega justamente o que se espera dela: humor, carisma e dramas superficiais. Mas, infelizmente, só isso.
O longa metragem é focado no relacionamento entre Marcos (Darín) e Ana (Morán), que são casados há mais de 25 anos e têm uma vida tranquila e financeiramente bem-sucedida. Quando o filho único do casal viaja à Espanha para estudar, o casal atravessa uma crise existencial que acaba levando-os a uma separação sem grandes dores de cabeça. Cada um vai para o seu lado e a vida de solteiro dos dois passa por grandes momentos.
Os primeiros 40 minutos são os melhores e mais importantes do filme. A cumplicidade e a honestidade com que Marcos e Ana tratam um ao outro são de uma verossimilhança admirável, em grande parte graças ao enorme carisma dos atores protagonistas. Em uma das cenas, Marcos e Ana fazem uma brincadeira caseira em que um deles tem os olhos vendados para tentar adivinhar qual o ingrediente presente na comida em que está provando, e é difícil não imaginar que Darín e Morán sejam casados também na vida real.
Mas o nível de afeto entre os dois durante este primeiro ato do filme é tão flagrante que torna previsível o rumo que a trama vai seguir. Após a separação consensual, o ex-casal passa por um ciclo de relacionamentos com diferentes pessoas que faz o filme desfilar uma série de clichês do gênero que afastam a produção de seu início de tom mais realista. As conversas com o amigo “parceiro” que trai a esposa, encontros bizarros com pessoas malucas, o aleatório reencontro do casal em circunstâncias constrangedoras.
O roteiro de Juan Vera e Daniel Cúparo até tem boas sacadas e sequências engraçadas (com destaque para o encontro do Tinder), mas com quase 2h30 de projeção, as aventuras de Ana e Marco perdem força, principalmente quando o desfecho do enredo é óbvio. Além disso, é notável como os dois saltam de um relacionamento sério para outro sem demonstrar grandes sequelas emocionais. É claro que a proposta do gênero é ser uma comédia romântica, mas aqui a romantização dessas situações é excessiva.
Um Amor Inesperado faz ainda uma inexplicável quebra da quarta parede, que nada acrescenta à narrativa, mas não tem quem não goste de assistir Ricardo Darín falando diretamente com você.
*Essa crítica faz parte da cobertura do 20° Festival do Rio.