Crítica do filme Um Quarto em Roma

Por Joyce Pais

Refilmagem de Na Cama (2005) do diretor Mathías Bize, Um Quarto em Roma é mais do que uma viagem a encantadora cidade italiana, mas principalmente aos dramas mais profundos de duas mulheres prestes a vivenciar uma experiência que mudará o rumo de suas vidas e o conhecimento que tinham de si mesmas.Através de uma câmera posicionada dentro de um quarto de hotel e de um travelling que conduz o espectador e as personagens para o interior do que será cenário fixo para o filme todo, são claras as diferenças entre Alba (que significa “amanhecer” em espanhol) e Natasha.

Seja por suas vestimentas ou por suas atitudes; uma mais a vontade com a probabilidade de passar a noite com outra mulher e a outra não, a sexualidade de cada uma fica bem clara logo na primeira cena – um beco iluminando com suas luzes a dupla que acabou de se conhecer em um bar.Impulsionadas por crises relacionadas a vida amorosa, pessoal e familiar, Alba (Elena Anaya), uma engenheira mecânica espanhola que participava de uma feira de locomoção e sustentabilidade na cidade, e Natasha (Natasha Yarovenko), uma tenista russa prestes a casar-se com seu noivo Vadim, passam a última noite na cidade juntas em uma aventura que abarca e expõe suas fraquezas e segredos mais íntimos.

O trabalho do diretor e roteirista Julio Medem (Caótica Ana, Lúcia e o Sexo) imerge em um mundo de representações e fantasias que mistura realidade e ficção, lançando questionamentos sobre o passado de cada uma, onde, em meio a confidências é possível conhecer um pouco de suas histórias. Alba tenta superar o distanciamento e o vazio estabelecido em seu relacionamento com Edurne (Najwa Nimri), após a acidental morte do filho desta. Já Natasha, que sempre teve que lidar com conflitos de ordem familiar, alimenta dúvidas relacionadas ao seu futuro casamento, vendo na viagem uma saída e uma opção de refletir e tomar a melhor decisão.

Entre as muitas cenas de sexo mostradas no longa, é interessante notar que alguns cortes são feitos para os quadros de temática religiosa presentes no quarto, atuando assim, como uma contraposição com a libertação e a experiência sexual vivida durante noite no interior do aposento. Ainda que haja uma inevitável rotulação acerca da sexualidade em alguns momentos da trama, as possibilidades que se abrem para as duas vidas envolvidas nesse processo são como uma morte e um renascimento simbolizados pela encenação quase teatral na cena da banheira, quando anunciada a predestinada despedida.

Um Quarto Em Roma (Habitación en Roma)