Quando criança, tive três conjuntos de LEGO: um balde de 400 peças básicas, a Tumba da Múmia no Deserto e o Posto Imperial Avançado. Cada um deles me foi dado por uma pessoa diferente, mas todos cumpriram o propósito de despertar a minha imaginação. Lembro de passar horas brincando com os tijolinhos coloridos, num período pré-internet onde os videogames ainda não chamavam a minha atenção.

Os produtos da empresa dinamarquesa foram responsáveis por marcar a infância de crianças no mundo todo, não só a minha. Para continuar relevante junto às novas gerações, a LEGO diversificou sua atuação e, desde 2014, também está nos cinemas. Após Uma Aventura LEGO, LEGO Batman e LEGO Ninjago, chega agora às telonas Uma Aventura LEGO 2.

A trama se passa cinco anos após os acontecimentos do primeiro filme. Tudo tem sido incrível nesse período, mas eis que surge uma nova ameaça. Brinquedos invasores estão despedaçando a cidade mais rápido do que os mestres conseguem reconstruí-la. Isso joga Emmet, Megaestilo e companhia em uma cenário pós-apocalíptico onde nada pode existir por inteiro.

Cheio de referências, o longa usa o repertório de outros títulos para gerar humor. Mad Max, Liga da Justiça, Jurassic World, Crepúsculo, O Mágico de Oz. Todos esses filmes estão ali representados por bonecos de montar. As expressões dos personagens e suas atitudes exageradas auxiliam a cativar o público e mantê-lo interessado na história. A veia cômica também está no texto, que brinca com estruturas clássicas de escrita e apresenta o dispositivo Deus ex machina. Este aparelho é capaz de gerar saídas pouco prováveis para os personagens e ainda facilita a vida dos roteiristas.

Mas, tal facilidade tem um preço. Por fazer uso dessas soluções inesperadas, o roteiro se mostra simplista na ação e nas relações afetivas. No primeiro filme da franquia o tema era a relação entre pai-filho e a disputa entre razão e criatividade. Aqui a reflexão reside na convivência entre irmãos e no distanciamento gerado pela maturidade. À medida em que a produção se desenrola, vemos como a jornada de amadurecimento de Emmet o afasta dos amigos, enquanto a de Finn (Jadon Sand) o separa da família. Contudo essas oposições são amenizadas pela mensagem frugal de que é possível crescer sem perder o cuidado e o carinho com os outros.

Visualmente a animação possui a alta qualidade inerente dos produtos Warner. O trabalho da equipe de design salta aos olhos, em especial nas cenas que misturam o mundo LEGO e a nossa realidade. O apreço aos detalhes também transparece na movimentação dos personagens, que é diferente de acordo com o estilo de cada brinquedo. Colorindo a história, vemos uma paleta calibrada em tons neon purpurinados, muito condizente com o cenário do segundo e terceiro ato.

Entretanto, essa aventura LEGO não soa mais tão original. A fórmula de construção das piadas é a mesma dos últimos três longas, o que diminui as risadas que ouvimos durante a projeção. O título ainda tem o ritmo prejudicado pelo excesso de músicas que nem de longe soam tão memoráveis quanto o hit “Tudo É Incrível”. O arco de crescimento dos personagens é previsível e o do Emmet, em específico, possui um recurso de viagem no tempo que o próprio filme assume ser nebuloso. O sentimento predominante é que este é mais uma produção infantil do que uma diversão para toda família.

Em retrospecto, fica claro que Uma Aventura LEGO deu uma nova vida aos brinquedos da empresa dinamarquesa. Aproveitando desse sucesso, as outras produções seguiram a mesma fórmula sem, porém, inová-la. Essa repetição excessiva já demonstra sinais de cansaço. Mesmo que a LEGO seja conhecida por se manter fiel ao seu sistema, nas telas a imaginação precisa ser o carro chefe. Só assim os longas de tijolinhos coloridos permanecerão relevantes, como suas cópias de plástico no mundo real.