Por Luciana Ramos

Martin Sharp (Pierce Brosnan) estava determinado a acabar com sua própria vida. Tanto que arrastou uma escada até o topo de um arranha-céu em Londres para fazê-lo. O problema é que escolheu a véspera de Ano Novo, data com alto índice de suicídios, e foi interrompido por três estranhos que desejavam o mesmo. Após algum debate, ficou claro a todos que não queriam testemunhas em um momento tão íntimo.

Após passarem uma noite inusitada juntos, fazem um pacto: permanecerão vivos até a próxima data popular para tal acontecimento: o dia dos namorados (que corresponde ao dia 14 de fevereiro na Inglaterra).

E assim, Martin, um ex-apresentador de TV que teve a sua vida arruinada após ser condenado a prisão por pedofilia (embora alegasse que ela parecesse ter vinte e um) une-se à introvertida Maureen (Toni Collette), cuja vida resume-se a tomar conta do filho doente, Jess (Imogen Poots), uma adolescente impulsiva que esconde seu sofrimento em insultos proferidos a cada segundo e J.J. (Aaron Paul), que alega ter câncer inoperável em uma região do cérebro.

Eles então viram amigos e apoiam-se uns nos outros para conseguirem permanecer vivos por mais seis semanas. Logo, porém, a história vaza para a imprensa, que os apelida de “quarteto do telhado” e fica mais difícil para cada um deles cumprir a sua parte no acordo.

A premissa do filme pode conduzir o espectador a uma percepção errada quanto ao seu conteúdo. Uma construção visual de apelo clássico aliada à oscilação sutil entre drama e comédia romântica enquadram-no nos chamados “feel good movies”, aquelas produções comerciais que tem como objetivo fazer o público sentir-se bem na sala de cinema.

O suicido é usado como ponte para a exaltação da importância de ser compreendido, ter alguém que lhe apoie e entenda para sobreviver. Tanto que, em determinado momento, Jess, J.J., Maureen e Martin decidem afastar-se para seguirem o fim da sua jornada sozinhos, mas nenhum deles consegue deixar de checar se o outro está bem- e respirando.

O longa é uma adaptação do mais novo livro do autor britânico Nick Hornby, que ficou popular pela acidez cômica com que tece as personalidades obsessivas de seus personagens, como observado nos romances “Alta fidelidade” e “O Grande Garoto”, ambos transportados para os cinemas.

Neste caso, a transposição das páginas para as telonas levou a algumas lacunas narrativas importantes. A sucessão de cenas logo ao começo que desembocam no firmamento do pacto não são impactantes o suficiente para justificá-lo. Não fica claro, por exemplo, porque um grupo de estranhos suicidas ia se importar tanto em conter o comportamento autodestrutivo de Jess a ponto de segui-la a noite inteira. Igualmente preocupante é o modo como a notoriedade do “quarteto do telhado” é mal inserida na trama mas, ainda assim, desempenha um forte papel na mesma.

No entanto, ainda que estes contratempos narrativos afetem a imersão completa no universo peculiar destes personagens, não comprometem o divertimento. Truques como narrações em off e uma viagem à praia seduzem o espectador a acompanhar de bom grado a jornada dos quatro potenciais suicidas.

Outro atrativo fica por conta das atuações. Os atores principais conseguem delinear bem os seus personagens e conceder densidade aos mesmos. É possível observar em todos o sofrimento da desilusão e o desespero em encontrar algum tipo de alegria no contato com o outro.

O destaque fica por conta de Imogen Poots, que vem se firmando em Hollywood através da aparição em filmes comerciais, como Need for Speed e Namoro ou Liberdade. Jess carrega a maior carga emocional do longa e a sutileza com que a sua fragilidade é exposta revela os talentos de uma ótima atriz.

Uma Longa Queda é claramente uma história de transformação, onde quatro pessoas que se encontram no alto de um prédio e decidem dar mais uma chance a vida aprendem lições valiosas pelo caminho. Ainda que mal amarrado em algumas passagens, consegue prender a atenção e ser cativante.

O filme ganha relevância por tratar o assunto com leveza, mas sem cair na superficialidade. Por mais que tentem o caminho do otimismo, Martin, Jess, Maureen e J.J. ainda tem que lidar com as questões interiores que o levaram a depressão profunda, e esta não é uma tarefa fácil, nem agradável. Recomendado para aqueles que gostam de passar horas agradáveis no cinema ao lado de bons personagens e seus dilemas existenciais.

 

Cinemascope-Uma-longa-querda (8)Uma Longa Queda  (A Long Way Down)

Ano: 2014

Diretor: Pascal Chaumeil

Roteiro:Jack Thorne (roteiro), Nicky Hornby (romance)

Elenco Principal: Pierce Brosnan, Toni Collette, Aaron Paul, Imogen Poots

 Gênero: comédia, drama

 Nacionalidade: Inglaterra

 

 

 

Confira o trailer:

 

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