Em 1887 a Índia era então colônia da Grã-Bretanha e a rainha Victoria sua governante. Partindo dessa informação, somos conduzidos durante as primeiras cenas do filme até a cidade de Agra, onde conhecemos Abdul Karim (Ali Fazal) caminhando por entre os moradores locais em direção ao seu trabalho, nos apresentando o cotidiano da cidade.
Ao chegar lá, é convocado por seu superior a fazer uma viagem à Inglaterra para entregar pessoalmente à Rainha Victoria uma rara moeda mongol, cunhada especialmente para ela em homenagem ao seu Jubileu de Ouro (50 anos de governo). Partem em viagem ele e Mohammed (Adeel Akhtar) que torna-se ao mesmo tempo o alívio cômico e o conselheiro racional de Abdul.
A premissa do filme não é inédita, já vimos a relação entre colonizadores e colonizados – e o que essa relação afetiva acarretaria em termos diplomáticos – por exemplo em Pocahontas e Avatar. Ainda assim, por ter um roteiro e técnicas que valorizam os momentos de contemplação, característica de muitos filmes asiáticos, conseguimos ser envolvidos e o ineditismo deixa de ter alguma importância.
A história escancara o cinismo xenófobo e classista logo nos primeiros minutos de filme, utilizando sutis comicidades provocadas por Mohammed, que brinca com o conceito de civilização e barbárie chamando de bárbara a terra da rainha por seus hábitos alimentares para logo em seguida focalizar o inglês de braços abertos no porto, olhando para sua terra e exclamando: “civilização!”, mostrando que civilização e barbárie são pontos de vista e construções culturais.
A montagem é eficaz e rápida, permitindo-se apressar alguns acontecimentos e retardar outros, destacando as cenas mais relevantes, as que enfocam a relação de afeto mútuo que se cria entre os dois e os problemas que surgem a partir dela. O tempo aqui é constantemente distendido e suspenso, para que o espectador desfrute da beleza das paisagens, da atmosfera de conto de fada e do relacionamento genuíno dos personagens principais.
Esse romance improvável, beirando a tragédia Shakespeariana, de uma rainha e seu Munshi (mestre) e esse carinho incondicional que atropelou regras e convenções, é coroado pelas atuações de Ali Fazal, completamente apaixonante, e de Judi Dench no papel de rainha Victoria, a rainha que aprendeu undu, evidenciando uma mulher meiga e ao mesmo tempo extremamente forte e convicta de seus desejos.