Histórias de zumbi fazem parte da cultura popular há pelo menos dois séculos. O personagem Frankenstein (1818), de Mary Shelley, embora não seja um zumbi propriamente dito, já representava esse processo de ressurreição da morte, trazendo o corpo de volta à “vida” em estado degradante e violento. O livro tem suas origens no folclore europeu, que também serviu de base para o conceito dos vampiros.

No cinema, o mito dos zumbis ganhou popularidade há algumas décadas e se tornou um subgênero do terror principalmente a partir de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), de George A. Romero. Mais recentemente, destacam-se filmes como 28 Dias Depois (2002), Todo Mundo Quase Morto (2004), Eu Sou a Lenda (2007), Guerra Mundial Z (2013) e a saga Resident Evil (2002-2016), assim como a série The Walking Dead (2010-2019).

Basicamente, um zumbi é uma criatura que volta dos mortos pela reanimação de seu corpo. A origem da palavra é haitiana, denominando um cadáver reanimado por meio de feitiços, que vaga pela terra atormentando os vivos. No terror e ficção científica, no entanto, outros métodos passaram a servir de base para a criação dos monstros, incluindo vírus e parasitas, radiação e até mesmo doenças mentais.

No caso de Zumbilândia (2009), o apocalipse zumbi é provocado por um surto do “mal da vaca louca”, fazendo com que o cérebro dos infectados inche e seu corpo entre em um estado de putrefação. Quando as coisas saem do controle e a doença se espalha, um grupo de sobreviventes acaba se juntando para combater os mortos-vivos. Columbus (Jesse Eisenberg) está tentando encontrar seus pais; Tallahassee (Woody Harrelson) quer apenas matar a vontade de comer um Twinkie; já as irmãs Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) querem chegar a um parque de diversões em Los Angeles, uma área supostamente livre de zumbis.

Com o sucesso do divertido primeiro filme e a química perfeita entre o quarteto protagonista, era de se esperar uma sequência. O fato de ela ter demorado dez anos para ser feita deve-se à exigência da equipe por um roteiro que fizesse o retorno valer a pena. A presença do diretor do longa original, Ruben Fleischer (Zumbilândia, Caça aos Gângsteres, Venom), também era imprescindível para o elenco. Assim chegamos à Zumbilândia: Atire Duas Vezes / Zombieland: Double Tap (fazendo referência a uma das regras de sobrevivência criadas por Columbus).

Nos Estados Unidos dominado por zumbis, Columbus, Tallahassee, Wichita e Little Rock​ agora ​vivem como uma peculiar família nas instalações da Casa Branca, a antiga mansão do presidente norte-americano. Tudo se complica quando a jovem Little Rock, motivada pelos hormônios da adolescência, foge com um músico hippie em direção a Graceland (a famosa propriedade onde viveu Elvis Presley). Na jornada para reencontrar a irmã de Wichita, eles acabam se deparando com uma nova categoria, mais evoluída, de zumbis: os chamados T-800.

Quem busca o humor despretensioso e politicamente incorreto que marcou o primeiro filme não vai se decepcionar com a continuação. As cenas de ação também são eletrizantes, lembrando um pouco o estilo Deadpool de batalhas coreografadas, utilizando de maneira interessante recursos como slow motion, letreiros e trilha sonora – não à toa, dois dos roteiristas de Zumbilândia: Atire Duas Vezes são os mesmos da franquia do super-herói da Marvel.

O entrosamento entre os atores continua um dos pontos fortes da trama. Como no filme anterior, em Zumbilândia: Atire Duas Vezes, Woody Harrelson rouba a cena no papel do irreverente Tallahassee, equilibrando de maneira perfeita a “nerdice” de Jesse Eisenberg. Já Emma Stone (depois de três indicações ao Oscar e uma estatueta – por La La Land) não decepciona no papel da heroína durona, mas ao mesmo tempo extremamente humana, da história.

Ao longo das últimas décadas, os filmes de zumbis têm sido usados como metáforas para as mais variadas ameaças “externas”. Nos anos após o atentado terrorista às Torres Gêmeas, a ameaça simbolizava o medo de tudo o que vinha de fora, a vulnerabilidade humana perante o inesperado. No fundo, essas histórias colocam em pauta o que a humanidade pode fazer para manter pelo menos algum traço de civilização e de espírito coletivo dentro de uma realidade pós-apocalíptica, em que não há quase nada a perder.

Num contexto contemporâneo, as narrativas de sobrevivência podem muito bem representar os problemas absolutamente realistas da escassez de recursos e do “cada um por si” na sociedade de consumo em que vivemos, permitindo que os espectadores lidem com ansiedades reais a respeito da possibilidade (cada vez menos distante) do fim do mundo como o conhecemos. Apesar do cenário desolador que cerca os personagens, Zumbilândia: Atire Duas Vezes vai na contramão do individualismo e do niilismo presentes no gênero ao enfatizar o poder dos seres humanos ao unirem suas forças contra os mortos-vivos. Afinal, ninguém sobrevive sozinho. Exceto Bill Murray, claro.

Zumbilândia: Atire Duas Vezes

Ano: 2019
Direção: Ruben Fleischer
Roteiro: Dave Callaham, Rhett Reese, Paul Wernick
Elenco principal: Jesse Eisenberg, Emma Stone, Woody Harrelson, Abigail Breslin, Zoey Deutch, Rosario Dawson, Avan Jogia, Luke Wilson
Gênero: Ação, Terror, Comédia 
Nacionalidade: Estados Unidos

 

Avaliação Geral: 3,5