Por Joyce Pais
Diretor, roteirista e montador, Daniel Ribeiro fez sua estreia com o curta-metragem Café com Leite, em 2007, mas o sucesso absoluto veio com curta que se tornaria um hit na internet, o Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010). Contando com extrema sensibilidade uma história que passa por sentimentos típicos da adolescência, como amizade, descoberta amorosa, insegurança e independência, o diretor ganhou inúmeros prêmios, como o de Melhor Filme – Prêmio da Crítica no 3° Festival Paulínia de Cinema. Seu primeiro longa-metragem, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, inspirado no curta que o antecedeu, tem estreia marcada para o Festival de Berlim neste ano.
O Cinemascope conversou com Daniel Ribeiro sobre o processo de criação do filme, a abordagem da homossexualidade no audiovisual e os planos para o futuro, confira!
Cinemascope: A ideia de transformar a história em um longa-metragem existia desde o começo ou só veio a partir do sucesso e da ótima aceitação do curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho?
Daniel Ribeiro: A ideia do “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” nasceu junto com o curta, que era pra servir como um piloto para o longa. Como seria meu primeiro longa-metragem, quis experimentar os elementos estéticos e narrativos em um curta. Além disso, usaria o curta para mostrar como imaginava o filme para possíveis investidores e editais.
CS: Como foi o processo de adaptação do curta para o longa?
DR: Como o curta teve uma grande número de visualizações no YouTube, tivemos que mudar algumas coisas no roteiro para que o longa ainda trouxesse surpresa. Como foram 3 anos entre a filmagem do curta e do longa, os atores também cresceram um pouco, então adaptamos isso na história também. Os conflitos, apesar de serem parecidos com os do curta, possuem uma profundidade maior.
CS: Como se desenvolveu a preparação do elenco principal?
DR: Aproximadamente um mês antes das filmagens, nós começamos a ensaiar. O Ghilherme Lobo, o Fabio Audi e a Tess Amorim já tinham uma química que vinha do curta, então foi mais rápido pra nos dedicamos a entender cada cena, o que poderia sair, o que poderia acrescentar, que diálogos poderiam melhorar. E mais próximo das filmagens, começamos a ensaiar com os diferentes núcleos do filme separadamente: os alunos da sala de aula, a mãe (Lucia Romano) e o pai (Eucir de Souza) e as cenas com a vó de Leo, interpretada pela Selma Egrei. Não houve nenhuma preparação especial. Eu gosto de ler e reler o roteiro com os atores até encontrarmos o que é confortável pra todos.
CS: Recentemente, o filme francês Azul é a Cor Mais Quente gerou polêmicas ao abordar uma história de amor entre duas mulheres de forma direta e realista. Você acha que a recepção do público quanto à temática difere de um país para o outro?
DR: Com certeza alguns países são mais conservadores ou moralistas do que outros. Acho que o Brasil, cada vez mais, está se tornando tolerante com a diversidade nas temáticas abordadas. Já as cenas de sexo ainda conseguem criar polêmica, pois o Brasil tem uma tendência ao moralismo. Há uma hipocrisia grande entre o que falamos o que fazemos nos nossos quartos e o que achamos sobre o que os outros fazem nos seus quartos. Mas o cinema ajuda a abrir o diálogo.
CS: O personagem mais popular e comentado do Brasil possivelmente seja o Félix, de Amor à Vida, considerando que além dele, ainda há dois personagens gays na mesma novela, é inevitável perguntar como você vê a representação do universo gay nos filmes, séries e telenovelas?
DR: Eu acho que hoje em dia os gays estão bem representados no audiovisual. Tem vilão, tem mocinho, tem vilão que vira mocinho, tem machão, tem machinho, travesti, drag, advogado. A diversidade que existe no universo gay parece estar sendo balanceada quando representada no cinema e na tv. Às vezes a balança vai pra um lado, depois vai pro outro, mas no geral, acho que estamos conseguindo um bom equilíbrio.
CS: Se você pudesse ser o personagem de algum filme, qual seria e por quê?
DR: Seria um dos caras que divide o apartamento com a Frances Ha porque ela parece ser a pessoa mais legal do mundo.
CS: Quais são os seus projetos futuros?
DR: Por enquanto a energia está concentrada em lançar o “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. Os outros projetos ainda estão sendo em fase embrionária.