Cinemascope: Quando começou a sua paixão pelo cinema?
Inácio Araújo: Na adolescência. Eu gostava mais de literatura do que de cinema, mas me interessei, primeiro, pelos filmes europeus da época, e alguns americanos também.
CS: Quais os critérios, usados por você para classificar os filmes em “ótimo”, “bom”, “regular” e “ruim”?
IA: Esses critérios são externos, são jornalísticos. Claro, há filmes de que se gosta muito e filmes que não têm nenhuma relevância. Mas no fim é isso: acho que eu penso na “relevância” do filme.
CS: Como foi ser homenageado com a criação de um blog que reproduz seus textos, preservando suas ideias?
IA: Do blog eu gosto muito, acho que o Diego faz um trabalho muito bom.
CS: Em sua opinião, qual a melhor cena do cinema?
IA: Puxa, há tantas cenas fantásticas. Mas há dias revi uma das melhores: a cena dos roubos de carteira e dinheiro numa estação ferroviária em “Pickpocket”. É de fato impressionante.
CS: Atualmente há varias Cinebiografias. Como você vê esse gênero cinematográfico? São fiéis as suas histórias?
IA: Não existe essa de fidelidade. Fidelidade a quê? O que existe é um filme bom ou ruim. A cinebiografia pode ser boa ou ruim, mas isso não depende da “fidelidade”. É como com qualquer outro gênero.
CS: Acredita que o público brasileiro é preconceituoso? Como vê o cinema nacional hoje?
IA: Se é preconceituoso em relação ao filme brasileiro? É, o público mais rico sempre foi e continua sendo.
CS: O cinema nacional hoje são os velhos diretores? Mojica, Reichenbach, Walter Lima, Coutinho, etc?
IA: A nova geração é, de modo geral, bem fraca. Não por culpa dela. Mas não existe um projeto geral que dê força ao que se faz.
CS: Você dirigiu e escreveu alguns filmes. Como é conciliar o trabalho de crítico e cineasta?
IA: Não, eu não conciliei. Antes eu fazia filmes. Hoje eu escrevo sobre eles. São dois momentos diferentes da minha vida.
CS: O que é o cinema para você? Como avaliaria a crítica de cinema no Brasil?
IA: Cinema? A emoção a 24 quadros por segundo (Godard). A crítica é muito boa, muito melhor que o cinema que se faz, em especial essa crítica feita na internet.
CS: Qual o seu diretor preferido?
IA: Hoje eu acho que o diretor mais completo que já existiu foi Howard Hawks.
CS: Qual a maior dificuldade em se fazer crítica de cinema? Qualquer um pode criticar um filme?
Qualquer coisa que se tente fazer direito tem suas dificuldades. A maior acho que é essa de que você falou: cinema é uma coisa de que todo mundo pode falar, porque entra no cinema e entende o que está acontecendo. É diferente da pintura, em que ele entra e pergunta por que tal quadro é importante. Cinema tem essa coisa legal que é: qualquer um entra na sala e constata: “isso me agrada”, ou não. Agora, para fazer crítica é preciso, no mínimo, familiaridade com muitos filmes e com outras manifestações culturais. Quem não conhece um pouco de literatura como é que vai distinguir uma ficção boa de uma má? Então, me parece que todo mundo pode falar de filmes. Mas para discutir filmes, num nível estético um pouco mais sofisticado é preciso ter algum preparo.