Durante o Festival de Cannes as atenções se voltam principalmente para os longas que estão na competição oficial pela Palma de Ouro. Ainda que este seja o prêmio mais importante, também é válido conhecer as produções que estão nas mostras paralelas e que possuem grande potencial. Elencamos aqui 11 títulos que valem a pena inserir na watchlist:
1 – A Vida Invisível de Eurídice Gusmão – Karim Aïnouz
Esse filme é o representante do Brasil na mostra Um Certo Olhar. Baseado no livro homônimo de Martha Batalha, a história é ambientada no Rio de Janeiro dos anos 1940. Pelas lentes de Aïnouz acompanhamos a vida de Gilda e Eurídice Gusmão, duas mulheres criadas para serem invisíveis aos olhos da sociedade brasileira da época, assim como todas de sua geração. O longa tem no elenco Flávia Gusmão, Bárbara Santos, Carol Duarte e Julia Stockler.
2 – Sem Seu Sangue – Alice Furtado
O longa de estreia da diretora brasileira Alice Furtado participa da Director’s Fortnight. A trama nos apresenta à Silvia (Luiza Kosovski), uma jovem introvertida completamente desinteressada pela própria rotina. Quando conhece Artur (Juan Paiva), ela encontra nele um sentimento que a faz sentir-se mais viva e menos tímida. Apesar de hemofílico, a força vital de Artur (e seu sangue?) deixa Silvia encantada, até que um grave acidente complica essa relação simbiótica. Já estamos curiosos para assistir.
3 – The Swallows of Kabul – Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec
Filmes de animação não tem muito destaque em Cannes. Porém, os longas escolhidos pelo festival geralmente são muito profundos. É o caso de The Swallows of Kabul. Ambientado na capital do Afeganistão governada pelo regime Talibã, o longa mostra como o casal Mohsen e Zunaira acredita no futuro, apesar da violência e miséria diárias. Entretanto, um ato impensado de Mohsen muda a vida dos dois para sempre. Segura a nossa mão e dá o play nesse trailer lindo:
4 – Bull – Annie Silverstein
Em 2014 a diretora ganhou o prêmio Cinefoundation pelo curta Skunk. Este é o seu primeiro longa e já participa da mostra Um Certo Olhar. Na trama conhecemos Chance (Keira Bennet), uma garota rebelde que procura escapar dos traumas adquiridos ao ver a prisão da mãe. A tábua de salvação é a amizade com seu vizinho, um cowboy veterano que já viveu o auge da carreira. Silverstein gravou o longa nos arredores de Huston, com um elenco formado predominantemente por atores não profissionais. O título procura ecoar Domando o Destino (2017), de Chloe Zhao, em sua capacidade de transmitir as nuances da cultura americana dos rodeios, bem como as lutas emocionais das classes mais baixas. Trailer aqui
5 – The Climb – Michael Covino
Seguindo a linha dos estreantes, o diretor Michael Covino também lança seu primeiro longa na mostra Um Certo Olhar. O filme é baseado no curta homônimo que ele apresentou no Festival de Sundance 2018. Suas lentes nos mostram dois amigos pedalando em uma colina particularmente desafiadora, quando um deles revela que está dormindo com a ex-noiva do outro. A adaptação usa essa premissa peculiar como ponto de partida para pintar um retrato amplo sobre a amizade entre homens. As críticas do curta afirmam que ele traz um frescor cinebiográfico para a conhecida fórmula do bromance, o que explica a participação de sua versão estendida em Cannes. Confira abaixo o curta de origem:
6 – Port Authority – Danielle Lessovitz
Depois de dirigir vários curtas na última década, a diretora lança seu primeiro longa. O drama, com produção executiva de Martin Scorsese, é ambientado em Nova York e orbita um romance entre duas mulheres: uma trans de 22 anos e outra do meio oeste americano. As críticas lançadas após a exibição em Cannes reportam que o filme possui uma delicadeza de aquecer o coração.
7 – Deerskin – Quentin Dupieux
O diretor francês (e DJ), Quentin Dupieux, sempre cumpriu as promessas de seus conceitos cinematográficos surreais. Após Rubber, O Pneu Assassino (2010), ele foca agora nos poderes incomuns de uma jaqueta, cujo dono gastou todas as economias para compra-la e, por conta disso, acaba se entregando a uma vida de crimes. O vencedor do Oscar de Melhor Ator, Jean Dujardin, interpreta o malfadado homem em questão, e sua bizarra odisseia possui ares de thriller cômico. O ideal aqui é não esperar por nada e apenas aproveitar a aventura.
8 – The Lighthouse – Robert Eggers
Eggers foi a sensação mais comentada no Festival de Sundance 2015 por A Bruxa, seu longa de estreia. A nova aposta do cineasta é The Lighthouse, título que transita entre os gêneros de terror e fantasia. Ambientada no mundo dos mitos marinhos, a produção foi rodada toda em filme 35mm preto e branco, tendo no elenco Robert Pattinson e Willen Dafoe. O thriller, filmado sob um clima extremo em partes remotas da Nova Escócia, incorpora elementos de mestres do cinema como Tarkovksy e Bergman, bem como características do cinema mudo.
9 – Family Romance, LLC – Werner Herzog
Uma obra do renomado documentarista Werner Herzog não era exibida na Croisette já há alguns anos. Esse encanto foi quebrado graças ao longa ficcional Family Romance, LLC. Rodado no Japão, nele o diretor se impôs barreiras criativas: trabalhou com atores não profissionais que falavam apenas japonês (língua que não domina). Esse seria um grande desafio para qualquer um, mas no caso de Herzog, evidencia sua ambição cinematográfica. A decisão de Cannes em exibir o filme, mesmo que fora de competições, sugere que o resultado é no mínimo distinto.
10 – And Then We Danced – Levan Akin
Concorrendo à Palma Queer, a produção de Akin nos apresenta a Mareb, um jovem que treina desde pequeno ao lado de Mary, sua parceria de dança, para ingressar no Balé Nacional da Geórgia. Contudo, seu mundo vira de cabeça para baixo quando o despreocupado Irakli chega na companhia e se torna, ao mesmo tempo, seu rival e objeto de desejo. O filme, exibido na programação paralela do Director’s Fortnight, foi gravado sob alta segurança, uma vez que a Geórgia possui uma visão extremamente conservadora quanto à homossexualidade.
11 – Zombi Child – Bertrand Bonello
Este é, de certo, o filme com a premissa mais curiosa da lista. No Haiti de 1962 um homem é trazido de volta à vida para trabalhar numa plantação de cana. 55 anos depois, uma adolescente haitiana conta para as amigas o segredo de sua família, sem suspeitar que isso a forçará a cometer atos irreparáveis. O plano de fundo do filme busca refletir a crueldade francesa durante a colonização nas ilhas da América Latina.