O cinema é, de longe, uma das experiências audiovisuais mais imersivas que existem. De comum acordo, pessoas entram em uma sala escura, sentam ao lado de desconhecidos e assistem durante duas horas uma narrativa da qual elas são apenas espectadoras. Ao longo dos anos, várias técnicas foram tornando as sessões mais interativas e hoje é comum vermos exibições de filmes em 3D ou mesmo em salas 4DX. Muitos dizem que o próximo passo serão os longas em realidade virtual, onde o público abandona a passividade e se torna um personagem. Sempre atenta às inovações da sétima arte, a 42a­ Mostra Internacional de Cinema de SP conta esse ano com uma instalação e 21 filmes adaptados para a tecnologia VR.

Com o nome de Chalkroom (Sala de Giz, em português), a instalação foi concebida pela artista Laurie Anderson em parceria com Hsin-Chien Huang e compõe a identidade visual da Mostra. Nela, é possível voar em uma enorme estrutura feita de palavras, desenhos e histórias. Uma vez que adentramos na simulação temos total liberdade para percorrer o mundo ali criado e explorar diversos ambientes. Premiada no Festival de Veneza como a Melhor Experiência em Realidade Virtual, a instalação representa bem o espírito do evento por nos permitir interagir e conhecer histórias vivas, tocantes e surpreendentes.

De maneira complementar os filmes disponíveis para exibição em VR também são instigantes. Apesar de curtos, cada um deles procura ampliar os sentidos do espectador e consegue manter sua atenção. Do total de longas, nossa equipe assistiu a 5 e você confere detalhes sobre cada um a seguir:

 

A Casa de Bergman

Em um tom de documentário lírico, o curta nos apresenta à Fårö, a lendária ilha onde morou o diretor Ingmar Bergman. Além de cenários belíssimos vemos de perto vários ambientes da casa que ele construiu ali, tendo como ponto alto a vasta biblioteca e seu escritório, local onde produziu tantos roteiros incríveis.

 

Ilha dos Mortos

Nesta animação somos apresentados à Ilha dos Mortos, o derradeiro destino de uma viagem atemporal que abarca vários momentos da nossa vida. Além de conter um estilo de narrativa desconstruído, o longa nos dá a oportunidade de fazer uma viagem de barco com o mitológico Caronte, barqueiro grego que levava os mortos aos domínios de Hades no Mundo Inferior. A obra também foi destaque no Festival de Veneza e ganhou o Leão de Ouro como a melhor história contada em realidade virtual.

Um Bar em Folies-Bergère

A Belle Époque francesa encanta gerações e já serviu de cenário para inúmeros filmes. Nesse curta adentramos na pintura homônima de Manet e, por meio de seus traços impressionistas, conhecemos o cabaré Folies Bergère que foi um point badalado em Paris no final do século XIX. O estilo da animação é arrebatador e nosso olhar chega a ficar deslumbrado por tamanha quantidade de detalhes.

 

Zero Days VR

Como toda boa mostra, não podia faltar um filme baseado em fatos reais. Em Zero Days acompanhamos uma missão clandestina dos EUA em Israel que tinha como intuito sabotar uma base nuclear no Irã. O diferencial é que não somos soldados infiltrados, mas sim um vírus de computador, o Stuxnet, usado como cyber arma. Esse é o longa com o estilo mais futurista e, além de uma condução quase hipnotizante, possui uma fotografia completamente tecnológica.

 

Ultraman Zero

Esse é, de longe, o filme mais descontraído e divertido que assistimos. A história nos transporta para um típico prédio de escritórios em Tóquio. Acompanhamos uma reunião normal até que sentimos um tremor de terra. Ao olharmos pela janela, vemos uma luta emblemática entre o herói Ultraman Zero e um monstro espacial. Ao escaparmos do prédio, nos vemos no meio da batalha entre os gigantes. É impossível não sorrir e lembrar de outros ícones japoneses televisivos como Jaspion e Power Rangers. Escapismo puro.

Apesar de sairmos um pouco tontos, recomendamos a experiência para todos aqueles que desejam conhecer melhor os usos que a realidade virtual pode ter no cinema. Ainda que dificulte o trabalho do roteirista e do diretor, uma vez que o público pode olhar para qualquer lugar e perder um ponto crucial do enredo, essa tecnologia garante imersão total e a atenção completa do espectador.

A instalação e os filmes estão em exibição no CineSESC (rua Augusta, 2075) e a entrada é gratuita. Mais informações no site da Mostra.

Esse texto faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo